
Num país onde falar de imposto é quase tabu — todo mundo reclama, mas poucos realmente entendem o assunto —, um dado curioso vem à tona: certos grupos estão abraçando com unhas e dentes a bandeira da justiça fiscal. E não são necessariamente quem você imagina.
Segundo levantamento recente, enquanto o brasileiro médio torce o nariz para qualquer menção a aumento de tributos (até os que nunca abriram uma declaração do IR), alguns setores específicos estão fazendo barulho por mudanças profundas no sistema. E olha que interessante: não se trata só daqueles que tradicionalmente defendem pautas progressistas.
Os campeões da reforma
Quem está na linha de frente? Surpreendentemente, profissionais liberais e pequenos empresários aparecem como os maiores entusiastas de medidas que redistribuem a carga tributária. Parece contra-intuitivo? Pois é, mas faz todo sentido quando você para pra pensar:
- Eles são os que mais sentem na pele o peso dos impostos indiretos
- Vivem na pele a concorrência desigual com grandes corporações
- Enxergam na simplificação do sistema uma chance de respirar
Não à toa, esses grupos têm pressionado por mudanças — e não é de hoje. "Quando você paga mais imposto que lucro, algo está muito errado", dispara um contador de Curitiba que preferiu não se identificar. E ele não está sozinho nesse sentimento.
Os paradoxos da tributação
O que mais chama atenção é como certos estereótipos não se confirmam. A classe média alta — aquela que sempre foi pintada como resistente a qualquer reforma — aparece dividida. Parte significativa apoia medidas progressivas, desde que venham acompanhadas de transparência no gasto público.
Já os mais ricos? Bem, aí o cenário é o esperado: resistência feroz a qualquer mudança que mexa no status quo. Mas até nesse grupo há exceções — alguns poucos defendem que é melhor pagar mais agora do que enfrentar o caos social lá na frente.
E os trabalhadores formais? Estão num limbo. Sabem que o sistema atual é injusto, mas temem que qualquer mudança possa — no curto prazo — piorar sua situação. "É aquela velha história: o diabo que você conhece...", comenta uma analista de RH de São Paulo.
O que isso significa para o futuro?
Esses dados revelam fissuras interessantes no debate tributário. Mostram que:
- O apoio à reforma não segue linhas ideológicas rígidas
- Há um cansaço generalizado com a complexidade do sistema atual
- Existe espaço para alianças improváveis em torno do tema
Mas calma lá — não é tão simples assim. Mesmo entre os que apoiam mudanças, há divergências profundas sobre qual caminho seguir. Alguns querem simplesmente pagar menos, outros defendem uma redistribuição radical. E no meio disso tudo, o Congresso parece mais perdido que cego em tiroteio.
Uma coisa é certa: o debate sobre justiça tributária no Brasil está longe de ser preto no branco. E esses novos aliados inesperados podem — quem sabe? — ajudar a destravar uma discussão que já dura décadas.