
Não é todo dia que um ex-embaixador brasileiro resolve soltar o verbo sobre política externa, mas quando Roberto Abdenur fala, vale a pena prestar atenção. E dessa vez, o assunto é quente: a permanência do Brasil no BRICS.
— Sair do bloco só porque Trump não gosta? Isso seria um tiro no pé — dispara Abdenur, sem rodeios. E ele tem razão. O BRICS não é um clube de amigos, mas uma aliança estratégica que coloca o Brasil no tabuleiro global.
O jogo geopolítico que muitos não enxergam
Enquanto alguns veem o BRICS como um clubezinho de países em desenvolvimento, a realidade é outra. O bloco representa quase 40% da população mundial e cerca de 25% do PIB global. Números que falam mais alto que opiniões pessoais de qualquer líder estrangeiro.
— O Brasil tem muito mais a ganhar mantendo-se no BRICS do que saindo por capricho alheio — analisa o ex-embaixador, lembrando que a China, por exemplo, é nosso maior parceiro comercial. E convenhamos: ninguém corta relações com o cliente que mais compra, certo?
Os riscos de uma saída precipitada
Imagine só: o Brasil deixa o BRICS e, de repente, encontra-se isolado diplomaticamente. Sem os benefícios do bloco, sem acesso privilegiado a mercados emergentes e, pior, sem voz ativa nos fóruns internacionais. Parece cenário de filme ruim, mas é o que pode acontecer.
- Perda de influência na governança global
- Redução do poder de negociação em acordos comerciais
- Isolamento em fóruns multilaterais
Não é à toa que Abdenur bate tanto na tecla da continuidade. Política externa não se faz no calor do momento, mas com visão de longo prazo. E o BRICS, com todos seus defeitos, ainda é uma das melhores cartas na manga do Brasil.
E os Estados Unidos nessa história?
Aqui vem o pulo do gato: ninguém está dizendo para virar as costas aos EUA. A questão é outra — o Brasil precisa manter sua autonomia estratégica, sem ficar refém de preferências alheias.
— Trump vem, Trump vai. Mas os interesses nacionais permanecem — filosofa Abdenur, com a experiência de quem já viu muitos presidentes americanos passarem pela Casa Branca.
No fim das contas, a mensagem é clara: política externa séria não se faz no vai-e-vem das preferências pessoais. E o BRICS, com todas suas complexidades, ainda é peça fundamental no jogo de xadrez global onde o Brasil não pode ser mero peão.