
Numa sala com paredes que já viram tantas negociações tensas, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Carlos Alberto Franco França — ou simplesmente "Motta", como preferem os colegas — soltou aquele suspiro que todo diplomata conhece. Aquele que vem antes de falar sobre os desafios de equilibrar o jogo de xadrez internacional.
"Diplomacia não é sinônimo de passividade", disparou, enquanto ajustava os óculos com um movimento que parecia quase teatral. "Quando nos deparamos com medidas como o tarifaço de Trump em 2018, aprendemos que a cordialidade precisa vir acompanhada de coluna vertebral."
O fantasma das tarifas
Quem viveu aqueles dias de 2018 — quando os EUA impuseram sobretaxas de 25% sobre o aço brasileiro — sabe que o clima era de feira livre em dia de briga. "Foi um tiro no pé", comenta um assessor que preferiu não se identificar. "Mas também nos ensinou a diversificar mercados."
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Não que Motta esteja defendendo postura agressiva. Longe disso. "O Itamaraty é casa de diálogo", reforçou, com aquela pausa calculada que faz repórteres acelerarem a caneta. "Mas diálogo pressupõe interlocutores dispostos a ouvir — e às vezes é preciso falar mais alto."
Lições aprendidas
O ministro — que tem no currículo passagens por Washington e Genebra — soltou uma risada ao ser questionado sobre "receita mágica" para crises comerciais. "Se existisse, eu estaria vendendo na Shopee", brincou, antes de ficar sério. "O que temos são princípios: reciprocidade, proporcionalidade e... criatividade jurídica."
E os números sugerem que a estratégia funcionou. Mesmo com os ventos contra, o saldo comercial brasileiro em 2024 surpreendeu até os mais otimistas. Mas Motta insiste: "Comércio não é jogo de soma zero. Quando um perde, todos perdem — e Trump aprendeu isso do jeito difícil".