Motta defende diplomacia, mas alerta: "Não podemos ser ingênuos diante de medidas como o tarifaço de Trump"
Motta: diplomacia não é passividade diante de tarifas como as de Trump

Numa sala com paredes que já viram tantas negociações tensas, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Carlos Alberto Franco França — ou simplesmente "Motta", como preferem os colegas — soltou aquele suspiro que todo diplomata conhece. Aquele que vem antes de falar sobre os desafios de equilibrar o jogo de xadrez internacional.

"Diplomacia não é sinônimo de passividade", disparou, enquanto ajustava os óculos com um movimento que parecia quase teatral. "Quando nos deparamos com medidas como o tarifaço de Trump em 2018, aprendemos que a cordialidade precisa vir acompanhada de coluna vertebral."

O fantasma das tarifas

Quem viveu aqueles dias de 2018 — quando os EUA impuseram sobretaxas de 25% sobre o aço brasileiro — sabe que o clima era de feira livre em dia de briga. "Foi um tiro no pé", comenta um assessor que preferiu não se identificar. "Mas também nos ensinou a diversificar mercados."

  • Exportações de aço para a China cresceram 47% no período
  • Acordos com Egito e Índia ganharam nova urgência
  • Setor agrícola acelerou abertura para o Sudeste Asiático

Não que Motta esteja defendendo postura agressiva. Longe disso. "O Itamaraty é casa de diálogo", reforçou, com aquela pausa calculada que faz repórteres acelerarem a caneta. "Mas diálogo pressupõe interlocutores dispostos a ouvir — e às vezes é preciso falar mais alto."

Lições aprendidas

O ministro — que tem no currículo passagens por Washington e Genebra — soltou uma risada ao ser questionado sobre "receita mágica" para crises comerciais. "Se existisse, eu estaria vendendo na Shopee", brincou, antes de ficar sério. "O que temos são princípios: reciprocidade, proporcionalidade e... criatividade jurídica."

E os números sugerem que a estratégia funcionou. Mesmo com os ventos contra, o saldo comercial brasileiro em 2024 surpreendeu até os mais otimistas. Mas Motta insiste: "Comércio não é jogo de soma zero. Quando um perde, todos perdem — e Trump aprendeu isso do jeito difícil".