
O clima, digamos, é dos melhores. E isso, na visão experiente de Geraldo Alckmin, não é mero detalhe de protocolo. O vice-presidente, em conversa franca com jornalistas neste início de setembro, foi direto ao ponto: a boa química cultivada entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chinês Xi Jinping representa um trunfo considerável nas delicadas negociações sobre o famigerado tarifaco imposto pela China aos produtos brasileiros.
Não se engane pensando que é só simpatia. Alckmin, com aquele jeito contido de quem já viu de tudo na política, deixa claro que o relacionamento entre os dois mandatários funciona como uma espécie de lubrificante para as engrenagens, muitas vezes emperradas, da diplomacia comercial. “Facilita, né? Quando há um canal direto, uma confiança estabelecida, os impasses perdem um pouco da sua aspereza”, refletiu, sem fazer mistério de que o tema é tratado na mais alta esfera.
O Pano de Fundo de uma Disputa Comercial
O tal do tarifaco não é brincadeira. Na prática, são sobretaxas que a China aplicou sobre itens fundamentais da nossa pauta de exportação, como o açúcar e produtos siderúrgicos. Um baque e tanto para o agronegócio e a indústria nacional. Uma questão espinhosa que exige muito mais do que discursos amistosos – exige negociação dura, técnica, mas que, convenhamos, flui melhor quando os chefes de Estado se entendem.
Alckmin, que também comanda a Câmara de Comércio Exterior, não entrou em detalhes específicos sobre os bastidores das tratativas. Preferiu destacar o tom. A impressão que fica é a de que, nos corredores do poder, há um otimismo cauteloso. Afinal, ninguém coloca panos quentes numa relação comercial bilionária só porque os presidentes trocam sorrisos em fotos oficiais. Mas é inegável: o diálogo flui com outra facilidade.
Além do Tarifaco: Uma Parceria Estratégica
O vice-presidente foi além do problema imediato. Ele pintou um quadro mais amplo dessa parceria Brasil-China, que ele classifica como “estratégica”. E olha, os números dão razão a ele. A China não é apenas nosso maior parceiro comercial; é um player fundamental para o desenvolvimento de infraestrutura e investimentos em setores-chave da economia brasileira.
Talvez por isso mesmo Alckmin tenha evitado um tom de confronto. A abordagem é de conciliação, de buscar soluções dentro de um relacionamento que, apesar dos percalços, é visto como mutuamente benéfico. Ele mesmo admitiu: “É uma relação madura, que consegue lidar com discordâncias sem abalar sua base.” Quase como um casamento de longa data, que sabe superar as brigas.
E o que esperar para os próximos capítulos? Bom, o vice-presidente não arriscou datas ou previsões mirabolantes. Manteve o pé no chão, característico. No entanto, a mensagem subjacente era clara: com os canais abertos no mais alto nível, a resolução do tarifaco deixa de ser uma impossibilidade e se torna uma questão de tempo e tato diplomático. Resta saber se o tempo joga a favor do Brasil.