Quem são os lobistas nas COPs? O poder oculto que molda as negociações climáticas globais
Lobistas nas COPs: o poder oculto do clima

Enquanto líderes mundiais discursam sobre a urgência climática nos palcos principais das COPs, um exército silencioso trabalha nos bastidores para moldar o futuro do planeta. Na COP30, em Belém, a presença de lobistas atingiu números históricos, revelando uma batalha invisível que pode definir o sucesso ou fracasso dos acordos climáticos.

O peso dos interesses corporativos

Os dados são alarmantes: o setor de combustíveis fósseis registrou uma delegação de 380 lobistas na conferência deste ano - um aumento significativo em relação aos 270 da COP28. Esse número supera a representação combinada das dez nações mais vulneráveis às mudanças climáticas.

"É como deixar a raposa cuidar do galinheiro", analisa um observador veterano das negociações climáticas. "Enquanto falamos em reduzir emissões, os maiores responsáveis pela crise têm assento cativo nas mesas de decisão."

Quem são esses influenciadores?

Os lobistas atuantes nas COPs vão além dos representantes óbvios de petróleo e gás. O ecossistema inclui:

  • Consultores especializados em legislação ambiental internacional
  • Representantes de setores agrícolas e de mineração
  • Especialistas em comércio de carbono e créditos ambientais
  • Advogados de grandes escritórios internacionais
  • Ex-funcionários de governos que migraram para o setor privado

As estratégias de influência

O modus operandi desses profissionais é sofisticado e multifacetado. Eles atuam através de:

  1. Eventos paralelos: Patrocinam painéis e debates que apresentam suas perspectivas
  2. Reuniões bilaterais: Acesso direto a delegados governamentais durante as negociações
  3. Posicionamento técnico:Fornecem "análises especializadas" que favorecem seus interesses
  4. Networking estratégico: Ocorrem nos corredores e áreas de convivência da conferência

Um ex-negociador europeu, que hoje trabalha como consultor, explica sob condição de anonimato: "Nosso trabalho é garantir que as decisões não prejudiquem os negócios dos nossos clientes. Às vezes, isso significa adiar prazos ou enfraquecer metas."

O impacto nas decisões finais

A influência desses grupos é visível nos textos finais das COPs. Termos como "transição energética" substituem "eliminação progressiva de combustíveis fósseis". Metas ambiciosas são diluídas em linguagem vaga, e mecanismos de compensação ganham espaço sobre reduções reais de emissões.

O resultado? Acordos climáticos que frequentemente falham em enfrentar a raiz do problema, enquanto permitem que os negócios continuem como de costume.

Transparência: a luz no fim do túnel?

Organizações da sociedade civil pressionam por maior transparência. Propõem registros públicos de lobistas, declaração de conflitos de interesse e limites à participação de representantes de indústrias poluentes.

"Precisamos equilibrar o jogo", defende uma ativista brasileira. "As comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas não têm recursos para manter lobistas caros em Belém por duas semanas."

Enquanto isso, na COP30, o balé diplomático continua - com seus passos coreografados por interesses que nem sempre coincidem com a ciência ou a justiça climática.