Brasil e Califórnia fecham pacto verde histórico enquanto Washington fica para trás na agenda climática
Brasil e Califórnia fecham acordo verde histórico

Eis que surge uma daquelas reviravoltas que ninguém — mas absolutamente ninguém — esperava no tabuleiro geopolítico ambiental. Enquanto o mundo acompanha a paralisia climática da Casa Branca, o Brasil resolveu dar um xeque-mate verde, fechando um acordo diretamente com a Califórnia. Sim, você leu certo: pulamos Washington e fomos conversar com o estado mais progressista dos EUA.

O memorando de entendimento, assinado nesta quarta-feira entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o governador californiano, Gavin Newsom, é daqueles que fazem história. E o timing? Impecável. Acontece justamente quando a administração Biden — que prometeu ser a mais verde da história — patina em suas promessas ambientais.

O que realmente importa neste acordo

O cerne da questão — e aqui vem o pulo do gato — está na criação de um mercado bilateral de créditos de carbono. Basicamente, estamos falando de uma moeda ambiental que vale ouro no mundo atual. Empresas brasileiras que reduzirem emissões poderão vender esses "créditos verdes" para companhias californianas.

Mas calma, não é só isso. A parceria abrange:

  • Desenvolvimento de combustíveis sustentáveis de aviação (sim, voar pode ficar mais verde)
  • Fortalecimento de cadeias de suprimentos sustentáveis
  • Cooperação tecnológica em energias renováveis
  • Proteção de biodiversidade e comunidades tradicionais

O governador Newsom, sempre eloquente, não poupou elogios: "Este memorando é sobre unir forças com nações críticas como o Brasil". Haddad, por sua vez, destacou o "alinhamento de valores e objetivos" entre as partes.

O elefante na sala: a omissão de Washington

Agora, vamos falar do que todo mundo está pensando mas poucos dizem abertamente. Esta aliança Brasil-Califórnia é um recado claro — e um tanto ousado — para o governo federal americano. Enquanto Biden enfrenta resistência interna para avançar sua agenda climática, a Califórnia assume a liderança de forma independente.

É como se o estado dissesse: "Se Washington não avança, nós avançamos sozinhos". E o Brasil? Apostou no cavalo certo na hora certa. Afinal, a Califórnia sozinha seria a 5ª maior economia do mundo — maior que a Índia e o Reino Unido.

O subtexto político aqui é fascinante. Mostra que o Brasil está disposto a trabalhar com parceiros não tradicionais quando os tradicionais falham em entregar resultados. É a realpolitik ambiental em ação.

E daí? O que isso muda na prática?

Bom, para começar, isso coloca o Brasil em uma posição privilegiada no mercado global de carbono. A Califórnia tem o maior mercado de cap-and-trade dos EUA, e agora teremos acesso privilegiado a ele.

Além disso — e isso é importante — fortalece nossa posição nas negociações climáticas internacionais. Mostra que temos alternativas além do eixo tradicional Washington-Bruxelas-Pequim.

Mas atenção: o sucesso depende de implementação. Acordos assinados são lindos no papel, mas o que conta mesmo é o que acontece no chão. Será que vamos conseguir transformar essas boas intenções em resultados concretos?

O que sei é que, pelo menos por hoje, o Brasil deu uma aula de diplomacia ambiental criativa. E a Califórnia mostrou que, às vezes, a mudança vem dos estados, não necessariamente das capitais federais.

Resta saber se outros estados americanos seguirão o exemplo. E, mais importante, se Washington vai acordar para a realidade climática antes que seja tarde demais.