Juiz Enterra Processo de Trump Contra NYT: “Tribunal Não É Palanque Para Invectivas”
Juiz rejeita processo de Trump contra NYT em vitória da imprensa

E então, eis que a justiça fala — e não é qualquer voz, mas a do juiz federal Robert Reed, de Nova York, que simplesmente enterrou o processo que Donald Trump moveu contra o The New York Times. A ação, repleta de acusações e tom agressivo, foi rejeitada com uma fundamentação que ecoa além das paredes do tribunal.

O magistrado não usou meias-palavras. Afirmou, categoricamente, que “um tribunal não é um palanque para invectivas”. A frase, dura e direta, sinaliza que o Poder Judiciário não se curva a brigas pessoais ou estratégias de intimidação.

Trump processou o jornal e três de seus repórteres — Megan Twohey, Susanne Craig e Russ Buettner — sob a alegação de que teriam conspirado com sua sobrinha, Mary Trump, para obter suas declarações de imposto de renda. Uma investigação que, como bem sabemos, rendeu uma série de reportagens vencedoras do Pulitzer em 2018.

O cerne da questão: liberdade de imprensa em jogo

O que estava realmente em jogo aqui? Muito mais que um desentendimento entre um ex-presidente e um jornal. Era — e ainda é — o princípio da liberdade de imprensa, um pilar da democracia. O juiz Reed deixou claro: o trabalho jornalístico, quando realizado com base em documentos públicos e fontes, não configura ilegalidade.

“As ações dos repórteres foram, em essência, jornalismo”, escreveu ele. E jornalismo, ainda que incômodo para alguns, não é crime.

Trump, claro, não gostou nem um pouco. Seu advogado, Alina Habba, já avisou que vai recorrer. Disse, em nota, que a decisão “permite que jornalistas lancem ataques” com “immunidade virtual”. Mas a questão é outra: será que processos judiciais são a melhor resposta a reportagens investigativas?

O que diz a lei — e o que diz o bom senso

O juiz foi técnico. Lembrou que, para configurar conspiração, é necessário mais do que simples interações entre fontes e jornalistas. É preciso provar um acordo fraudulento, algo que a defesa de Trump — pasme — não conseguiu demonstrar.

Além disso, a alegação de que os repórteres “induziram” Mary Trump a violar um acordo de confidencialidade também não colou. Ora, a própria quebra do acordo partiu dela, e não dos profissionais da imprensa.

Não é a primeira vez que Trump tenta usar a justiça como arma contra a mídia. E, pelo andar da carruagem, não será a última. Mas decisões como esta reforçam um recado importante: tribunais sérios não compactuam com estratégias de assédio judicial.

O caso segue — agora num provável recurso. Mas uma coisa é certa: a sentença de Reed já entrou para a história como um lembrete vigoroso de que a imprensa livre é intocável. E que, por mais poder que alguém tenha, a justiça não se curva a gritos — apenas à lei.