
O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, acaba de levar mais uma chicotada judicial — e dessa vez o motivo remonta àqueles dias turbulentos de 2019, quando a cidade vivia um verdadeiro cabo de guerra entre a gestão municipal e a cultura.
A 12ª Vara Cível do Rio decidiu, não tem outra palavra, que o político evangélico vai ter que desembolsar R$ 200 mil por danos morais coletivos. A razão? Aquela série de declarações inflamadas e ameaças de cancelamento que ele fez contra a Bienal Internacional do Livro.
Lembra daquela confusão? Pois é. Crivella, na época no comando da prefeitura, simplesmente não digeriu a exposição de um livro com ilustrações de homens nus — e partiu para o ataque. Chegou a mandar fiscais da prefeitura vistoriarem o evento, num claro constrangimento público.
Os detalhes da condenação
O juiz Felipe Barcelos da Silva, responsável pela sentença, foi categórico. Ele considerou que as ações e falas do ex-prefeito ultrapassaram, e muito, a simples discordância. "Configuraram tentativa de censura", anotou o magistrado, destacando que Crivella usou a máquina pública para intimidar e pressionar os organizadores.
Não foi pouco. A bienal, que é um dos maiores eventos culturais do país, chegou a correr risco real de fechar as portas antes da hora. O clima ficou tão pesado que até o então governador Wilson Witzel — que depois também virou réu em vários processos — precisou intervir para garantir que o evento seguisse em frente.
O valor da indenização
Os R$ 200 mil determinados pela Justiça não vão para os organizadores diretamente. A grana será revertida para o Fundo Municipal de Direitos Difusos, uma conta pública usada para financiar projetos que, ironicamente, promovam direitos como o acesso à cultura e à informação.
Parece justo, não? Quem tenta cercear a liberdade de expressão acaba financiando sua divulgação. Há certa poesia nisso.
O histórico de Crivella com a Justiça
Essa não é, nem de longe, a primeira encrenca judicial do ex-prefeito. Desde que deixou a prefeitura, em 2020, Crivella acumula processos como quem coleciona selos — muitos deles relacionados a supostos abusos durante sua gestão.
Mas essa condenação específica cutuca uma ferida cultural importante. Mostra como figuras públicas, especialmente aquelas com mandato, não podem usar seu poder para tentar calar vozes dissonantes. A bienal, afinal, sempre foi um espaço plural — e tentar podar essa pluralidade saiu caro.
O que me pergunto é: será que políticos algum dia vão aprender que cultura não se controla na base da força? Pelos visto, ainda não.
Enquanto isso, a Bienal do Livro do Rio segue firme — sua última edição, aliás, foi um sucesso retumbante, mostrando que a sede por literatura no carioca é maior que qualquer tentativa de censura.