
Não era pra ser assim. Um domingo qualquer, sol a pino, e aquele clima de alegria que só o futebol de várzea sabe criar. Mas o que começou como diversão terminou em dor. Uma diarista de Varginha, que preferiu não se identificar, viveu na pele o peso do preconceito durante uma partida do campeonato amador da cidade.
"Foi como se alguém tivesse jogado um balde de água gelada na minha alma", desabafa ela, ainda abalada. Tudo aconteceu quando torcedores adversários passaram a gritar insultos racistas - daqueles que cortam como faca. Palavras que não se repetem, mas que deixam marcas profundas.
O jogo que virou pesadelo
Ela estava lá apenas para acompanhar o time da família. Nem imaginava que sairia do campo com o coração apertado e a dignidade ferida. "Começou com piadinhas, depois escalou para ofensas explícitas", conta. O pior? Ninguém interveio. Nem os organizadores, nem os outros espectadores - o silêncio cúmplice que dói mais que as palavras.
O caso já está nas mãos da polícia. Boletim de ocorrência registrado, testemunhas ouvidas. Mas será que isso basta? "Quero justiça, não vingança", diz a vítima, com uma mistura de firmeza e cansaço na voz. Ela sabe que processos são lentos, mas insiste: "Se ficar quieta, vão fazer com outra pessoa".
O outro lado da moeda
Procurados, os organizadores do campeonato afirmaram que "repudiam qualquer forma de discriminação" e que estão colaborando com as investigações. Belas palavras, mas que soam vazias para quem teve que engolir o choro na arquibancada.
Varginha, cidade conhecida por sua tranquilidade, agora precisa encarar seus fantasmas. Porque racismo não é caso isolado - é sintoma de uma doença social que insiste em não desaparecer. E enquanto houver quem ache normal humilhar o próximo pela cor da pele, histórias como essa vão continuar manchando não só o futebol amador, mas toda a sociedade.