Seis meses após desabamento: o que mudou na Igreja de Ouro em Salvador?
Seis meses após desabamento da Igreja de Ouro em Salvador

Já se foram 182 dias – quase um semestre inteiro – desde que o chão tremeu no Pelourinho. Aquele 5 de agosto de 2025 ficou marcado na memória dos soteropolitanos não pelas festas de rua, mas pelo estrondo ensurdecedor que ecoou entre os casarões coloniais.

A Igreja de Nossa Senhora do Ouro, construída no século XVII e considerada uma joia do barroco baiano, desmoronou como um castelo de cartas. Pedaços de talha dourada e azulejos portugueses viraram pó em questão de segundos.

O que restou?

Hoje, o local parece uma cena de guerra congelada no tempo. Andaimes enferrujados cercam o que sobrou das paredes laterais, enquanto operários catam fragmentos de obras sacras como arqueólogos num sítio histórico. "É como se tivessem arrancado um pedaço da nossa identidade", desabafa Dona Maria, 72 anos, que frequentava as missas ali desde criança.

As investigações – aquela papelada interminável que sempre anda a passos de tartaruga – apontam para uma combinação fatal:

  • Infiltrações crônicas ignoradas por anos
  • Falhas na última reforma (aquela de 2019, lembra?)
  • O peso extra das estruturas modernas no prédio secular

E enquanto os peritos brigam nos tribunais para definir responsabilidades, a prefeitura promete – sempre promete – que a reconstrução começará "em breve".

O lado humano da tragédia

Milagre ou sorte do destino, ninguém morreu no desabamento. Mas o trauma persiste. O padre Miguel, que escapou por minutos do desastre, ainda tem pesadelos com o barulho das pedras caindo. "Foi como ouvir gemidos da própria história", confessa ele, enquanto mostra fotos antigas da igreja em seu celular.

A comunidade se reinventou. As missas agora acontecem numa praça vizinha, debaixo de uma mangueira centenária. "Deus não precisa de paredes", diz uma fiél, enquanto arruma as toalhas no altar improvisado. Mas todos sabem: não é a mesma coisa.

Enquanto isso, turistas ainda param para fotografar os escombros. Alguns deixam flores. Outros, apenas suspiros. E Salvador – essa cidade que já sobreviveu a tantas histórias – espera, com a paciência típica dos baianos, pelo próximo capítulo dessa saga.