Orçamento 2026 de Rio Preto: Saúde engole 30% dos recursos enquanto Cultura recebe migalhas
Orçamento Rio Preto: Saúde 30%, Cultura 0,55%

Parece que a prefeitura de São José do Rio Preto deixou bem claro onde estão suas prioridades para o próximo ano. Enquanto a saúde engole uma fatia monumental de quase 30% do orçamento — algo em torno de R$ 1,1 bilhão —, a cultura... bem, a cultura vai ter que se contentar com as migalhas que sobrarem da mesa.

E quando digo migalhas, não é exagero. A área cultural receberá apenas 0,55% do total, o equivalente a R$ 19,8 milhões. Uma diferença que salta aos olhos e que já está gerando bastante conversa nos corredores do poder.

Os números que falam por si

O projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2026, que acaba de ser enviado à Câmara Municipal, prevê um orçamento total de R$ 3,6 bilhões. Desse montante impressionante:

  • Saúde lidera disparado com R$ 1,1 bilhão (29,8%)
  • Educação vem em segundo com R$ 792,5 milhões (21,8%)
  • Assistência social recebe R$ 175,5 milhões (4,8%)
  • Cultura — bem, já sabemos — R$ 19,8 milhões (0,55%)

Não é difícil entender a lógica por trás desses números. A saúde, convenhamos, sempre foi um daqueles temas que queimam na pele de qualquer gestor público. Com a pandemia ainda fresca na memória e a pressão constante por melhorias no SUS municipal, alocar quase um terço dos recursos para essa área parece uma jogada... digamos, estratégica.

E o que dizem os responsáveis?

O secretário de Fazenda e Planejamento, Fábio Montes, foi direto ao ponto ao explicar a distribuição. "A saúde tem demandas muito específicas e urgentes", afirmou, deixando claro que não há muito espaço para negociar quando o assunto é o funcionamento de hospitais, UPAs e postos de saúde.

Mas e a cultura? Será que realmente merece apenas essa sobra mínima? Alguns especialistas em gestão pública já começam a questionar se não estamos diante de mais um caso clássico de "enxugar gelo" — investir pesado para apagar incêndios em vez de prevenir que eles aconteçam.

Afinal, não é segredo para ninguém que investimento em cultura gera desenvolvimento econômico, turismo e, pasmem, até melhora indicadores de saúde mental na população. Mas parece que essa visão mais ampla ainda não chegou aos planejamentos orçamentários.

O contexto que importa

Vale lembrar que esses números são apenas uma estimativa inicial. O projeto ainda precisa passar pela sabatina dos vereadores, que certamente vão querer dar sua colherada — especialmente aqueles ligados às áreas mais afetadas pelos cortes.

E tem outro detalhe que não pode passar batido: a previsão de crescimento de 5,5% em relação ao orçamento de 2025. Parece bom, mas será que basta para cobrir a inflação e as demandas crescentes de uma cidade que não para de crescer?

O que me preocupa, francamente, é o desequilíbrio crônico que se perpetua ano após ano. Claro que saúde é importante — ninguém em sã consciência questionaria isso. Mas será que não estamos criando um monstro insaciável ao negligencer investimentos em áreas preventivas e de desenvolvimento social?

Enquanto isso, os artistas, produtores culturais e gestores de espaços públicos vão ter que continuar fazendo milagre com o que têm. Ou melhor, com o que não têm.

Agora é torcer para que a Câmara Municipal faça seu trabalho de fiscalização e, quem sabe, consiga um pouquinho mais de equilíbrio nessa balança que parece permanentemente inclinada para um só lado.