
Não é de hoje que o vai-e-vem de caminhões e carros pelas estradas da Paraíba mais parece um desafio de obstáculos. Mas parece que a poeira vai baixar — literalmente. O governo estadual decidiu apertar o passo nas desapropriações para turbinar as obras rodoviárias que estão na fila.
E olha que não é pouco: pelo menos 37 propriedades — entre terrenos baldios, sítios e até comércios — agora estão com os dias contados. A justificativa? "Precisamos cortar o nó da lentidão", diz um técnico da secretaria de Infraestrutura, enquanto enumera os gargalos que emperram o escoamento de produção agrícola há anos.
Onde o asfalto vai chegar
Três trechos estratégicos puxam a fila das intervenções:
- A PB-073, que liga Campina Grande ao agreste — um verdadeiro "fio desencapado" segundo os motoristas
- O corredor da PB-025, onde caminhões de algodão dançam mais que quadrilheiro junino
- A perimetral de Patos, onde o comércio cresceu mas o asfalto ficou no século passado
"Tem dono de barraca de beira de estrada que já recebeu três notificações diferentes", conta Maria do Socorro, dona de um boteco na PB-025. Ela, que atende caminhoneiros há 22 anos, torce o nariz: "Dizem que vão me indenizar, mas cadê o dinheiro?"
O outro lado da moeda
Enquanto isso, nos gabinetes, o discurso é outro. "Estamos seguindo à risca a legislação", defende o secretário de Transportes, citando os laudos de avaliação que — em tese — garantem pagamentos justos. Só que... (e sempre tem um "só que"), os valores oferecidos mal cobrem o preço do metro quadrado na região, segundo a associação de proprietários.
Curiosamente, o edital prevê até a realocação de um cemitério particular — sim, você leu certo — onde repousam restos mortais de uma família tradicional da região. "É como se estivessem cavando nossa história", desabafa um descendente, que pede para não ser identificado.
E os prazos? Bem, a promessa é entregar tudo até o primeiro trimestre de 2026. Mas qualquer paraibano que já viu obra pública sabe: "até" não significa necessariamente "dentro".