
Era pra ser diferente. Três anos se passaram e a realidade nas ruas de Cuiabá continua a mesma: promessas que viraram pó e catadores de materiais recicláveis à própria sorte. Nesta quarta-feira (17), a frustração transbordou nas principais vias da capital.
Imagine acordar antes do sol nascer, enfrentar calor de derreter o asfalto – porque Cuiabá não brinca em serviço quando o assunto é temperatura – e saber que você trabalha num sistema que praticamente não existe. Pois é. Essa é a rotina de dezenas de profissionais que sustentam, com as próprias mãos, o que deveria ser política pública.
O protesto não foi barulho vazio. Carregava a força de quem cansa de esperar. Eles bloquearam a Avenida Historiador Rubens de Mendonça, conhecida como CPA, por incríveis duas horas. Dois. horas. parados. no calor de 40 graus. Isso não é falta do que fazer, é desespero mesmo.
O que dizia aquela promessa?
Voltemos a 2022. A administração municipal assinou um termo de ajustamento de condição (TAC) com o Ministério Público Estadual (MPE). Traduzindo: um documento com força de lei que obrigava a prefeitura a implantar a coleta seletiva em… 180 dias. Sim, você leu certo: menos de um ano.
Os meses viraram anos e o programa, que deveria ser realidade desde 2023, simplesmente não saiu do zero. A prefeitura, questionada, joga a culpa na… pandemia. Sério mesmo. A pandemia que tecnicamente acabou há tempos virou justificativa universal para tudo que não saiu do papel.
E olha que a situação é grave. Sem a coleta seletiva organizada, os catadores seguem trabalhando na informalidade, sem equipamentos de proteção, sem renda estável e, o pior, sem o reconhecimento que merecem por um serviço que beneficia a cidade inteira.
E agora, José?
Os manifestantes não saíram das ruas de mãos abanando. Eles entregaram um documento na prefeitura – um grito no papel – exigindo respostas concretas. Querem saber, de uma vez por todas, quando o programa vai sair do mundo das ideias e chegar no asfalto quente de Cuiabá.
O mais irônico? A coleta seletiva não é gasto, é investimento. Gera emprego, renda, preserva o meio ambiente e ainda economiza dinheiro público com aterro sanitário. Mas parece que someburocracia prefere o caminho mais longo – e sujo.
Enquanto a prefeitura não se mexe, são pessoas reais que pagam o pato. Gente que sobrevive do que outros descartam, mas que não descarta a esperança de ver seu trabalho valorizado. Resta saber se o poder público finalmente vai enxergar o valor que está literalmente jogado no lixo.