
Era uma daquelas manhãs cinzentas que parecem prever notícias pesadas. Em Manaus, a comunidade católica acordou com um baque no peito: Padre Orlando Barbosa, aos 55 anos, partiu. Justo ele, que sempre soube acolher os outros nos momentos mais difíceis.
Não foi um simples religioso. Era daqueles padres que você encontrava na feira, conversando com os vendedores, ou no meio da rua, ajudando a carregar sacolas de idosos. Tinha um jeito único de misturar sabedoria teológica com piadas péssimas — do tipo que faziam os fiéis rirem mesmo contra a vontade.
Um legado que vai além dos muros da igreja
Quem o conheceu sabe: Orlando não media esforços. Organizou projetos sociais que:
- Distribuíam cestas básicas para famílias ribeirinhas
- Criaram uma rede de apoio psicológico gratuito
- Transformaram um terreno baldio em horta comunitária
"Ele tinha aquela rara combinação", lembra Maria dos Santos, 68 anos, paroquiana há décadas. "Firmeza nas convicções, mas mãos sempre abertas. Até para quem pensava diferente."
Detalhe cruel? Ainda não se sabe a causa da morte. Só que foi rápida — talvez um alívio para quem dedicou a vida a aliviar dores alheias.
O vazio que fica
A diocese local já anunciou missas em sua memória. Nas redes sociais, a comoção é palpável:
"Padre Orlando me batizou, crismou e casou", escreve um homem. "E ainda achou tempo para me consolar quando me divorciei."
Outra mensagem, anônima: "Ele me ouviu chorar no confessionário por uma hora. No final, me deu um abraço e 20 reais para o ônibus. Disse que Deus queria me ver em casa segura."
Não era santo — detestava quando falavam isso. Mas certamente foi humano. Intensamente, dolorosamente humano.