
Era uma tarde cinzenta de julho quando Campina Grande perdeu um de seus pilares espirituais. Valberto da Cruz — homem que transformou o simples ato de pregar em movimento cultural — partiu aos 70 anos, deixando saudades e um legado que atravessa décadas.
Quem o conheceu sabe: não era apenas um pastor. Era força da natureza, mistura rara de eloquência e simplicidade. Nos anos 80, quando a cidade fervilhava de mudanças, ele teve a ousadia de sonhar grande. Junto com outros visionários, plantou a semente do que viria a ser a Consciência Cristã — hoje, o maior evento evangélico do Nordeste.
Um homem além do púlpito
Dizem que sua voz ecoava no Parque do Povo sem precisar de microfone. Brincadeira, claro, mas que mostra o carisma do homem. Nos bastidores, era meticuloso — planejava cada detalhe dos cultos como maestro afina orquestra. "Pastor Valberto não fazia show, fazia encontro", lembra Diácono Marcos, colaborador de longa data.
Seu segredo? Nunca separou fé do cotidiano. Nas feiras livres, nas filas de banco, nas conversas de calçada — lá estava ele, tecendo redes de solidariedade. "Religião pra ele era verbo, não substantivo", define a professora Lúcia Mendes, frequentadora assídua dos eventos.
O adeus e a continuidade
A pneumonia chegou sorrateira, mas ele enfrentou com a mesma determinação que marcou sua vida. No hospital, recebia visitas cantando hinos — até o fim, líder pastoral. A despedida acontecerá nesta terça (23), no mesmo Parque do Povo que tantas vezes reverberou suas pregações.
Campina Grande chora, mas também celebra. Afinal, como ele mesmo dizia: "O fim aqui é começo lá". A Consciência Cristã, seu maior legado, segue firme — agora como memorial vivo de quem soube unir céu e terra com rara maestria.