Imagine uma relíquia sagrada que precisa de mais cuidados que um recém-nascido prematuro. Pois é exatamente assim que tratam o manto de Carlo Acutis, o primeiro santo da geração millennial, aqui no Mato Grosso do Sul.
A coisa é tão séria que até parece cena de filme de espionagem. O casaco religioso — que teoricamente teria pertencido ao jovem italiano — exige um protocolo digno de laboratório de ponta. Luvas especiais? Óbvio. Maleta térmica com controle de umidade? Claro que sim. E tem mais.
O Ritual Científico da Fé
O padre Paulo Ricardo, responsável pela peregrinação da relíquia, não brinca em serviço. Cada toque no manto é calculado, cada movimento coreografado. "Não se trata apenas de devoção", explica ele, com a seriedade de um cirurgião cardíaco. "É preservação histórica pura."
O tal casaco — na verdade um pedaço de tecido de 15x15 cm — viaja dentro de uma maleta refrigerada que manteria até vacinas felizes. A temperatura? Controladíssima. A umidade? Nem se fala. Parece exagero, mas quando se trata do primeiro santo que provavelmente usou smartphone, todo cuidado é pouco.
Quem Foi Carlo Acutis?
Ah, sim! O cara por trás de toda essa história. Carlo era um adolescente italiano que morreu em 2006 — aos 15 anos — por causa de uma leucemia. O que faz dele especial? Além da fama de "santo youtuber" por catalogar milagres eucarísticos online, ele virou o primeiro millennial beatificado pela Igreja Católica.
Ironia do destino: um garoto que amava tecnologia agora tem sua relíquia preservada com ajuda de… bem, tecnologia de ponta. Ele certamente aprovaria.
Peregrinação com GPS
A relíquia não fica parada. Desde agosto, ela percorre cidades sul-mato-grossenses como uma verdadeira celebridade espiritual. Campo Grande, Três Lagoas, Aquidauana — todas recebem a visita ilustre com direito a missas especiais e filas de fiéis.
E olha, o povo está mesmo empolgado. "É como ter um pedacinho do futuro da santidade aqui", comenta uma senhora que preferiu não se identificar, enquanto ajusta óculos para ver melhor o pequeno tecido.
Até outubro, o manto seguirá itinerário rigoroso — sempre acompanhado pelo padre Paulo Ricardo, que parece ter virado guarda-costas espiritual de tempo integral.
Por Que Tanto Cuidado?
Bem, relíquias não são exatamente fáceis de substituir. Não dá para ir numa loja de departamentos e comprar outra. Além disso, há todo um significado simbólico — cada fio representa uma conexão com o divino que, segundo a crença, pode interceder por milagres.
Mas falando francamente: também há um claro aspecto prático. Tecidos antigos se deterioram. Umidade, calor e até o suor das mãos humanas podem danificar irreversivelmente algo que, para muitos, é inestimável.
Então, da próxima vez que vir uma maleta refrigerada sendo transportada com mais cuidado que o ovo da Páscoa, pode ser que esteja diante de uma relíquia sagrada. Ou talvez apenas de uma vacina importante. No Mato Grosso do Sul, atualmente, as apostas estão na primeira opção.
