
Não foi apenas um show. Foi um evento, um ritual coletivo que ecoou pelas estruturas do The Town neste sábado. Filipe Ret, aquele mesmo que vem moldando a cena do rap há anos, subiu ao palco com uma missão que ia além de simplesmente entreter. Ele estava lá para conversar, pra cutucar a ferida, e pra galvanizar uma massa humana que parecia pronta para explodir.
E explode mesmo. Desde os primeiros acordes, um mar de gente — sério, uma multidão que parecia não ter fim — se transformou em uma única entidade pulsante. Celulares pra cima, punhos cerrados, vozes que rasgavam o céu noturno de São Paulo cantando cada palavra como um mantra pessoal. A energia era tão densa que dava pra sentir na pele.
Um Discurso Entre as Batidas
O que sempre separou Ret de muitos é justamente isso: a palavra como arma. E ele não a esconde. Entre uma música e outra, soltou verdades duras sobre a realidade do país, sobre resistência, sobre a periferia que grita por voz. Não era discurso de palanque, não. Era uma conversa de camarada, um papo reto com quem estava ali do outro lado, suando junto no meio do povo.
— A gente não tá aqui só pra curtir, tá? — berrou ele em certo momento, com a voz um pouco rouca de tanto cantar. — Tamo aqui pra lembrar quem a gente é.
E o público respondeu em uníssono, num volume que quase abalou as estruturas. Momentos assim são raros. A setlist foi uma viagem pela carreira dele, dos clássicos que todo mundo sabe de cor até as novidades que ainda estão pegando fogo nas plataformas. Cada beat drop era um pequeno terremoto.
A Conexão que Define um Festival
É engraçado como um cara sozinho no palco consegue criar uma intimidade tão grande com tanta gente. Talvez seja a autenticidade. Ret não tenta ser o que não é; ele é apenas ele, com todas as camadas e contradições. E o público compra isso, se vê naquilo, se projeta naquela figura que fala o que eles também pensam.
O The Town, como um todo, ganhou outro sabor depois daquela noite. Festivais grandes assim às vezes podem ser impessoais, mas performances como a de Ret são um lembrete potente do poder da música ao vivo. Ela une, transforma, e, por algumas horas, faz todo mundo acreditar que mudança é possível — e que começa ali, naquele coletivo.
Quando as luzes finalmente se acenderam, o chão estava coberto de histórias e suor. E todo mundo que saía dali carregava um pedacinho daquela eletricidade para casa. Não foi só mais uma atração num line-up gigante. Foi um daqueles momentos de quebra, que a gente lembra muito depois que as caixas de som se calam.