
Uma notícia que pegou todo mundo de surpresa e deixou o coração pesado. Petrolina – e, vamos combinar, todo o Vale do São Francisco – acordou mais quieta hoje. A voz que por mais de quatro décadas foi a trilha sonora de manhãs, tardes e noites simplesmente se calou. Aos 62 anos, partiu Beto Lupe, um daqueles nomes que a gente nem imagina o rádio sem.
Não foi uma despedida qualquer. Foi como se um pedaço da identidade sonora da região tivesse ido embora. Quem nunca ajustou o dial do carro ou daquela velha radiola de casa só para escutar aquele timbre inconfundível? Ele tinha um jeito único de narrar os acontecimentos, misturando a seriedade do jornalismo com a simpatia de quem conversa com um velho amigo.
Mais do que um locutor, uma companhia
A carreira dele, construída com uma dedicação que beirava a obsessão, era um verdadeiro atlas sonoro do Vale. Das enchentes do Rio São Francisco aos resultados do campeonato local de futebol, Beto Lupe estava lá. Informando. Aconchegando. Fazendo companhia para o peão na roça, para o motorista no trânsito, para a dona de casa no preparo do almoço.
E o que dizer do seu papel além dos estúdios? Muito mais do que um simples repórter, ele era um ativo participante da comunidade. Era comum vê-lo envolvido em campanhas beneficentes, usando o microfone como ferramenta para mobilizar pessoas e angariar doações para quem mais precisava. A credibilidade dele não era negociável – era uma conquista diária, suada, ganha com honestidade intelectual e um caráter inquestionável.
O silêncio que fala mais alto
A causa da morte ainda não foi divulgada pela família, que, como se imagina, está devastada e pede privacidade neste momento de dor insondável. As homenagens, no entanto, não esperaram. Das redes sociais às conversas de boteco, é uma enxurrada de memórias afetivas.
Colegas de profissão, aqueles que dividiram o mesmo ar condicionado gelado dos estúdios, se lembraram não apenas do profissional meticuloso, mas do homem bom. Do companheiro que sempre tinha uma palavra de incentivo, um conselho sábio ou uma piada pronta para quebrar a tensão de uma pauta difícil.
É um daqueles golpes que a gente leva tempo para digerir. O rádio segue, é claro. Os programas vão ao ar, os boletins de notícias são lidos. Mas a paisagem sonora do Vale do São Francisco perdeu uma de suas cores mais vibrantes. Uma voz familiar que, dadas as circunstâncias, faz uma falta danada.
Beto Lupe deixa uma esposa, filhos, netos e uma legião de ouvintes que, de uma forma ou de outra, se sentiam parte da sua grande família. O seu legado? Está impresso para sempre no ar, nas lembranças de quem cresceu ouvindo sua voz e no jeito singular de fazer um ofício que ele tanto amou.