
Ela não é só filha de Gilberto Gil. Nem só cantora. Nem só celebridade. Preta Gil é um furacão de personalidade que desafia rótulos desde sempre. Gorda? Sim. Bissexual? Claro. Candomblecista? Com orgulho. E é essa mistura explosiva que a torna tão fascinante.
Numa conversa que mais parece um desabafo coletivo, ela solta: "Cansei de caber nos padrões que não me cabem." E como! Entre um gole de café e risadas que ecoam como ato político, desfia relatos de como o corpo negro e gordo ainda assusta — e como ela transforma esse medo alheio em combustível.
Religião e Resistência
O candomblé, pra ela, não é exotismo. É raiz. "Quando me viram com minhas contas, alguns torcem o nariz como se eu fosse um bicho de sete cabeças", conta, arqueando a sobrancelha. Mas o que seria da cultura brasileira sem os terreiros? Sem os orixás? A pergunta fica no ar, retórica e afiada.
Amor sem Caixinhas
Sobre bissexualidade, ela fala com a naturalidade de quem tá cansada de explicar o óbvio: "Amor não tem gênero, tem verdade." E os haters? "Ah, esses eu deixo falando sozinhos — ecoa tão bem a solidão deles." Típico dela: transformar acidez em piada pronta.
Entre uma história e outra, surge o tema família. Gilberto Gil, claro. Mas não espere clichês sobre "pai famoso". Ela fala dele como quem descreve um parceiro de lutas — dois artistas navegando num mar de preconceitos, cada um a seu modo.
O Peso das Palavras
Quando o assunto é gordofobia, o tom muda. Fica mais áspero, mais urgente. "Meu corpo ocupa espaço e faz questão de ser visto", diz, enquanto ajusta o turbante com uma dignidade que desarma. E arremata, cáustica: "Magreza não é sinônimo de saúde — e muito menos de caráter."
No final, o que fica? A imagem de uma mulher que não pede licença pra existir. Que ri alto, fala mais alto ainda e — pasmem — vive feliz assim. Num mundo obcecado por padrões, Preta Gil é o terremoto que a gente nem sabia que precisava.