
O que deveria ser uma noite de cultura e expressão artística transformou-se num episódio digno dos piores pesadelos autoritários. Na última segunda-feira, a cena cultural paulistana viveu momentos de tensão quando a Guarda Civil Metropolitana (GCM) interveio bruscamente durante uma apresentação no Teatro de Contêiner, localizado no vibrante centro da cidade.
Ninguém menos que Marieta Severo — sim, aquela mesma atriz que há décadas emociona o Brasil com seu talento ímpar — testemunhou a ação e não conseguiu conter sua revolta. "Me remeteu aos piores tempos de ditadura", declarou ela, com a voz ainda embargada pela indignação. "É assustador ver cenas assim em pleno 2025."
O Palco Virou Praça de Guerra
Imagine a cena: atores completamente imersos em suas performances, público absorto na narratura… e de repente, a intrusão. Uniformizados interrompendo a magia do teatro com alegações de irregularidades. A verdade? Parecia mais uma investida contra a liberdade de expressão do que qualquer outra coisa.
Testemunhas relatam que o clima ficou pesado, carregado de uma energia opressiva que ninguém esperava encontrar num espaço dedicado à arte. E o pior: a justificativa apresentada foi tão frágil que mal conseguiu se sustentar — algo sobre alvarás e burocracias, enquanto a essência do problema era claramente outra.
Não é sobre papelada. É sobre poder.
Marieta, com sua experiência de vida e artística, não se calou. Questionou veementemente o verdadeiro motivo por trás da ação. Será que incomodou alguém? O conteúdo? A localização? A natureza alternativa do espaço? Perguntas que ecoam num silêncio desconcertante por parte das autoridades.
O Teatro de Contêiner representa exatamente o tipo de iniciativa que São Paulo precisa: inovadora, acessível e pulsante. Transformar estruturas urbanas ociosas em palco de dreams e críticas sociais é, no mínimo, brilhante. Mas aparentemente, ainda há quem veja criatividade como ameaça.
O subtexto político dessa operação é impossível de ignorar. Quando agentes do estado interrompem manifestações culturais de forma agressiva e pouco transparente, o fantasma do passado autoritário brasileiro assoma sua cabeça feia. E Marieta Severo, que viveu aqueles anos cinzentos, reconhece o cheiro da repressão disfarçada de ordem.
A pergunta que fica: até quando a cultura independente vai precisar lutar contra gigantes com uniforme e poder de interromper sonhos? São Paulo merece mais. Muito mais.