
Eis uma daquelas notícias que deixam a gente com sentimentos contraditórios – um misto de alívio e apreensão. A Bahia, estado tão marcado por números tristes de violência, finalmente respirou um pouco quando o Departamento de Polícia Técnica (DPT) divulgou seus dados mais recentes.
De janeiro a agosto deste ano de 2025, o estado registrou 95 mulheres mortas. Parece um número assustador – e é –, mas aqui vem a parte que traz um fio de esperança: representa uma queda de 40% se comparado ao mesmo período do ano anterior, quando 159 baianas perderam a vida violentamente.
Mas calma lá – não é hora de comemorar como se a guerra estivesse ganha. A gente sabe muito bem que os números são traiçoeiros e escondem nuances cruéis.
O lado sombrio que persiste
Quando fuçamos os dados com mais cuidado – e a perícia foi a fundo nisso –, a realidade mostra suas garras. Do total dessas mortes, 43 foram classificadas como feminicídios. Quase metade. Quase uma a cada duas mulheres mortas foi vítima de violência de gênero.
E dessas 43, sabe qual é o detalhe mais revoltante? 37 foram dentro de casa. Sim, você leu certo. O lugar que deveria ser porto seguro se transformou em cenário de horror para dezenas de baianas.
Os períios não usam rodeios: a maioria esmagadora desses crimes foi cometida por parceiros ou ex-parceiros. A violência que começa com um empurrão, um xingamento, um controle sobre a vida alheia, e termina… bem, termina com laudos periciais e famílias destruídas.
E as outras mortes?
As demais 52 mortes? Roubos que deram errado, balas perdidas (que nunca são tão perdidas assim), conflitos urbanos… A violência multifacetada que assola nosso cotidiano. Mas mesmo aí – pasmem – 17 aconteceram dentro do próprio lar da vítima.
Não é impressionante como o perigo mora ao lado? Literalmente.
O DPT baiano, que é referência nacional em perícia, tá fazendo um trabalho minucioso de catalogar cada caso. Eles não veem só números – veem histórias, contextos, padrões que ajudam a prevenir futuras tragédias. Ou pelo menos tentam.
É aquela velha história: dados não são apenas estatísticas. São vidas interrompidas, sonhos cancelados, filhos que ficam sem mãe. Cada número desse relatório representa uma família que não será mais a mesma.
A queda é, sem dúvida, uma vitória das políticas públicas e do trabalho incansável de organizações que combatem a violência contra a mulher. Mas olhando para os detalhes… ainda temos um caminho longo pela frente. Muito longo.
Enquanto uma única mulher se sentir ameaçada dentro da própria casa, a gente não pode realmente comemorar. A gente pode, no máximo, respirar aliviado por um instante – e voltar ao trabalho.