
Eis que Sorocaba se vê no meio de uma daquelas encruzilhadas que misturam progresso e memória. De um lado, o tão sonhado Trem Intercidades, prometendo cortar tempos de viagem como faca quente na manteiga. Do outro, uma ponte que resistiu a décadas de história — e um prédio que nem sequer terminou seu processo de tombamento.
O osso do debate
Planejada para ligar Jundiaí a Sorocaba, a nova linha férrea esbarra num detalhe que virou pepino: a passagem pelo Centro. A tal ponte, construída na época em que carroças ainda dividiam espaço com os primeiros automóveis, teria dias contados. "É como escolher entre apagar uma foto antiga ou abrir espaço no álbum para novas imagens", filosofa um morador enquanto ajusta os óculos.
E não para por aí. O terreno onde seria erguida a estação abriga um edifício que está com um pé — ou melhor, uma fachada — no processo de preservação histórica. "Atrasos burocráticos deixaram essa questão no limbo", comenta uma arquiteta que prefere não se identificar. Coisa de Brasil, né?
Os números da discórdia
- 100+ anos: idade estimada da ponte ameaçada
- 2 estações previstas no projeto original
- 47% de aprovação em pesquisa informal com comerciantes locais
Enquanto isso, nas redes sociais, a briga esquenta. De um lado, os "progressistas" que juram de pé junto que a cidade não pode ficar parada no tempo. Do outro, os "saudosistas" que defendem que história não se repete, mas se preserva. No meio, claro, os políticos tentando equilibrar-se na corda bamba das próximas eleições.
"Já vi esse filme antes", resmunga um senhor de barba grisalha na fila do pão. Ele se refere aos vários projetos de mobilidade que Sorocaba viu nascer — e morrer — nas últimas décadas. Dessa vez será diferente? Bom, pelo menos o debate está posto, e como diz o ditado: quando a esmola é demais, o santo desconfia.