Imagine a cena: eram por volta das 9h da manhã, as crianças brincavam no pátio do Centro Municipal de Educação Infantil Professor Antônio Basílio, em Felipe Camarão, quando de repente—estouros secos, múltiplos, cada um mais assustador que o outro. Não eram fogos de artifício, não. Era tiroteio.
O que se seguiu foi puro instinto de sobrevivência. Professoras e funcionárias, verdadeiras heroínas anônimas, agiram rápido—muito rápido. Correram com as crianças para dentro das salas, as abrigaram longe das janelas, trancaram as portas. O protocolo de segurança existe no papel, mas na hora H, é o medo que dita as regras.
"Foi um momento de pavor", relata professora
Uma educadora, que preferiu não se identificar por—bem, óbvias razões de segurança—descreveu a atmosfera com uma palavra: pavor. "A gente treina, a gente se prepara, mas quando acontece de verdade... seu corpo congela antes de reagir. O principal era proteger nossos pequenos." E protegeram, graças a Deus.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), a suspensão das aulas foi imediata e preventiva. Afinal, como mandar as crianças de volta à rotina com o risco latente de novos confrontos? A decisão, ainda que disruptiva, foi a única sensata.
E agora, como fica a volta às aulas?
Boa pergunta. A SME emitiu um comunicado—meio burocrático, como sempre—dizendo que as atividades só serão retomadas quando a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social (Semdes) der aval. Traduzindo: quando a polícia garantir que a área está pacificada.
Ah, e detalhe: os pais e responsáveis foram comunicados sobre a suspensão. Pelo menos nisso foram ágeis.
Esse incidente—essa tragédia anunciada—joga holofotes sobre um problema crônico que assombra não só Natal, mas praticamente todo centro urbano brasileiro: a violência armada invadindo o espaço que deveria ser o mais protegido de todos, o espaço da educação.
Quando o som dos livros é substituído pelo estampido de armas, algo está profundamente errado. Algo precisa mudar. Urgentemente.
