
Numa tarde que começou como qualquer outra, João Igor, um jovem de 23 anos, nunca imaginaria que sairia de um ônibus em São Paulo carregando não só sua mochila, mas uma história que dividiria sua vida em antes e depois. Baleado por um policial militar durante uma abordagem — aquelas que, sabe como é, às vezes escalam rápido demais —, ele acabou no hospital. Mas o que poderia ser só mais um caso de violência urbana virou um relato de esperança.
«Foi como se eu tivesse nascido de novo», conta João, ainda com a voz um pouco fraca, mas os olhos cheios de uma luz que não estava lá antes. Entre os curativos e os exames, ele surpreendeu a equipe médica ao começar a cantar músicas gospel no leito. «A bala podia ter acabado comigo, mas trouxe algo que eu não esperava: paz.»
O que realmente aconteceu naquele ônibus?
Detalhes ainda são nebulosos — como sempre nesses casos. Testemunhas falam de confusão, de movimento brusco, de um PM nervoso. João insiste que não reagiu, que só estava com pressa. A versão oficial? «Em investigação.» Enquanto isso, o jovem, que trabalhava como entregador, diz que agora tem «um emprego novo: espalhar fé».
No quarto do hospital, a rotina ganhou um ritmo inusitado. Enfermeiras que antes só viam dor agora param para ouvir os hinos. «Ele canta com uma convicção que arrepia», comenta uma delas, que pediu para não ser identificada. Até os outros pacientes — alguns com histórias parecidas — começaram a chamá-lo de «o pastor».
E depois da alta?
João já planeja. Quer gravar um CD independente («nem que seja no celular»), visitar comunidades carentes para contar sua história. «Se uma bala não me calou, por que eu me calaria?» Mas também há o outro lado: a família cobra justiça, advogados entram em cena, e a PM promete «apurar com rigor» — aquela frase que todo mundo já cansou de ouvir.
Enquanto as câmeras de segurança são analisadas e os papéis se acumulam em alguma mesa burocrática, João faz seu próprio processo: «Antes eu só existia. Agora, eu sei por que estou aqui.» E aí, será que essa história vai acabar em tribunal ou em coro gospel? São Paulo, como sempre, escrevendo roteiros que nem Hollywood inventaria.