
O Tribunal de Justiça do Ceará acabou de dar mais um capítulo decisivo naquele que talvez seja um dos casos mais sombrios da história recente do estado. E olha que não foram poucos, hein?
Na tarde desta sextinta-feira, os desembargadores mantiveram as condenações de mais dois policiais militares pela Chacina do Curió - aquela que deixou marcas profundas na comunidade do bairro Curió, em Fortaleza, lá em 2015. Uma verdadeira tragédia que completará uma década no ano que vem, mas que parece ter acontecido ontem na memória de quem viveu aqueles dias tensos.
Os números são pesados: os PMs Willian de Almeida Viana e Francisco das Chagas Rodrigues Filho pegam, respectivamente, 22 anos e 8 meses e 21 anos e 4 meses de reclusão. E sabe qual foi a base? Homicídio triplamente qualificado - que já é grave por si só - mais ocultação de cadáver. Uma combinação que revela a frieza do que aconteceu naquela noite de agosto.
O que realmente aconteceu no Curió?
Parece até roteiro de filme policial, mas foi realidade pura e dura. Tudo começou com uma operação que deveria ser rotineira, mas que descambou para o absolutamente inaceitável. Três jovens - Gleidson de Sousa Melo, Francisco Eran do Nascimento e Francisco Jean da Silva - foram executados sumariamente. Sumariamente mesmo, sem chance de defesa.
E o pior? Os corpos foram abandonados como se fossem lixo em uma área de mata. Só foram encontrados dois dias depois, graças a denúncias anônimas que corriam pela comunidade assustada. A população do Curió viveu um verdadeiro inferno naqueles dias - medo, revolta, desconfiança de quem deveria proteger.
E a defesa? Alegou o que sempre alega...
Os advogados dos PMs tentaram, claro. Argumentaram que as penas eram... como dizer... exageradas? Disproporcionais? Mas os desembargadores não compraram essa ideia. Na verdade, ficou claro que a brutalidade do crime falou mais alto que qualquer tentativa de minimizar o acontecido.
O caso já tinha condenado outros quatro policiais antes desses dois. Isso mesmo - agora são seis PMs respondendo pela mesma chacina. Uma teia que se fecha lentamente, demonstrando que a Justiça, ainda que a passos lentos, está acompanhando o fio da meada.
"A sociedade precisa entender que ninguém está acima da lei", comentou um observador do tribunal, que preferiu não se identificar. E de fato, parece que a mensagem está sendo passada - ainda que dez anos depois.
E agora? O que esperar?
Os condenados ainda podem recorrer - é quase uma certeza nesses casos. Mas a decisão de segunda instância tem um peso psicológico enorme. Mostra que o sistema não engoliu a versão inicial de que seria "apenas mais uma operação policial".
Fortaleza ainda carregará as cicatrizes da Chacina do Curió por muitas gerações. Mas decisões como a de hoje são um alento - pequeno, talvez, mas significativo. Sinaliza que mesmo uniformes não blindam ninguém da responsabilidade por seus atos.
O caso continua aberto para eventuais novos desdobramentos, mas uma coisa é certa: a memória das três vidas perdidas naquela noite de 2015 finalmente está recebendo um pouco da justiça que merecia.