
Os números são assustadores e pintam um retrato cruel da realidade piauiense. Quase nove em cada dez mulheres vítimas de feminicídio no estado nunca haviam registrado queixa formal contra seus algozes. Um silêncio que custou tudo.
Os dados—coletados entre 2019 e 2023—mostram que desses casos brutais, 87,5% das mulheres mortas não tinham sequer um Boletim de Ocorrência contra o agressor. A gente fica pensando: quantas tentaram pedir ajuda de outras formas? Quantos sinais foram ignorados?
O abismo entre a agressão e a denúncia
Não é medo. É terror puro. Muitas mulheres vivem verdadeiras prisões domiciliares, controladas 24 horas por dia. O agressor corta laços familiares, amizades, acesso a dinheiro. Como denunciar se você não pode sair de casa sozinha? Se seu celular é vigiado constantemente?
E tem mais: o relatório aponta que 71,4% dos crimes aconteceram dentro da própria casa da vítima. O lugar que deveria ser um porto seguro se transformou na cena do crime. É de cortar o coração.
Como romper o ciclo da violência?
Bom, a primeira coisa é saber que ajuda existe—e é mais acessível do que parece. A Central de Atendimento à Mulher, o famoso Ligue 180, funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano. E o melhor: a chamada é gratuita e não aparece na fatura do telefone.
Além disso, aqui no Piauí temos:
- Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) - com equipe preparada para acolher vítimas
- Patrulha Maria da Penha - que monitora electronicamente os agressores
- Serviços de assistência social e psicológica - porque recuperar a autoestima é crucial
Não espere que a situação piore. A primeira agressão—seja física, psicológica ou moral—já é suficiente para buscar ajuda. Como diz aquela amiga sábia: 'melhor sobrar proteção do que faltar segurança'.
Um problema de todos nós
Essa história de que 'em briga de marido e mulher não se mete a colher' ficou no passado. Hoje, se você testemunha ou desconfia de violência doméstica, denuncie. Sua ligação pode salvar uma vida.
Os canais são vários: Disque 180, Disque 100, ou até mesmo o 190 em casos de emergência. A omissão nos torna cúmplices—e nesse jogo, o preço da passividade é alto demais.
Enquanto escrevo estas linhas, não consigo evitar um nó na garganta. São vidas interrompidas, filhos sem mães, famílias destruídas. Mas também vejo esperança: esperança de que com informação e ação, possamos reverter essa triste estatística.