
Às vezes, o medo é um conselheiro cruel, mas necessário. Foi o que aconteceu com uma mulher de Governador Valadares, no interior mineiro, que decidiu transformar seu local de trabalho numa verdadeira fortaleza. Grades nas portas, câmeras de vigilância apontadas para cada ângulo – ela não estava se protegendo de clientes ou de assaltantes comuns. O inimigo era mais próximo, mais pessoal: seu ex-companheiro.
A decisão, tomada com o coração na mão, mostrou-se profética. Na última quinta-feira (25), por volta das 19h, o temor se materializou. O ex-namorado, contra quem ela já tinha uma medida protetiva – aquela ordem judicial que, infelizmente, às vezes parece apenas um pedaço de papel – apareceu no local. E não foi para uma conversa amigável.
As câmeras não mentem
As imagens de segurança, aquelas mesmas que ela instalou com um misto de esperança e desespero, capturaram tudo. Dá até um frio na espinha só de imaginar. Lá estava ele, tentando arrombar a porta, insistente, como se a lei e o medo que ele mesmo causou simplesmente não existissem. A sorte – ou melhor, a precaução – estava do lado dela. Um segurança particular, também contratado como parte desse esquema de autodefesa, viu a cena e agiu rápido.
A Polícia Militar foi acionada e, quando chegou, o flagrante era mais do que evidente. O homem, de 41 anos, não teve como negar. Foi preso ali mesmo, respondendo por descumprimento de medida protetiva. Parece pouco? Não é. É justamente esse tipo de ação que tenta quebrar o ciclo da violência, que mostra que a ameaça tem consequências.
Um problema que vai além dessa porta
O caso escancara uma realidade que muitas mulheres conhecem bem. A medida protetiva é um instrumento vital, mas não é uma armadura invisível. Ela precisa ser acompanhada de ações concretas, de estratégias reais de segurança. Essa mulher entendeu isso. Não esperou passivamente. Ela se tornou, de certa forma, a arquiteta da própria proteção.
E funcionou. A prisão em flagrante é um alívio, sem dúvida, mas também um capítulo triste dessa história. É a prova de que o perigo era real, palpável. O ex-companheiro foi levado para o Presídio Judeu Bento e, depois de passar pela audiência de custódia, foi recolhido ao sistema prisional. A Justiça agora segue seu curso.
O que fica é um alerta e, paradoxalmente, um sinal de esperança. Um alerta sobre a persistência da violência doméstica. E uma esperança de que, com coragem e as ferramentas certas – sejam elas grades, câmeras ou a lei –, é possível enfrentar o medo e buscar justiça.