Vítima brasileira de Jeffrey Epstein quebra o silêncio: 'Perdi a noção do que era certo ou errado'
Vítima brasileira de Epstein quebra silêncio no Fantástico

Ela respira fundo antes de começar. Os olhos ficam vidrados por um instante, como se revivessem cenas de um pesadelo distante. "Aquela vida... era como estar num filme de terror onde você é a protagonista e não consegue gritar", confessa a brasileira que preferiu manter o anonimato, mas decidiu romper o silêncio depois de anos calada.

O que ela viveu nas mãos de Jeffrey Epstein — sim, aquele bilionário americano que virou sinônimo de escândalo sexual internacional — vai muito além do que qualquer manchete poderia capturar. E olha que foram muitas manchetes.

O começo do pesadelo

Tudo começou com uma promessa. Daquelas que fazem os olhos de qualquer jovem brilhar: oportunidades no exterior, conexões importantes, uma carreira internacional. "Eu era ingênua, cheia de sonhos", admite com uma voz que ainda carrega resquícios daquela menina que um dia foi. "Não fazia ideia do que estava por vir."

Quando percebeu, já estava completamente isolada. Sem família por perto, sem amigos de verdade — apenas pessoas interessadas no que Epstein poderia oferecer. O ambiente era, nas palavras dela, "uma bolha onde a moralidade tinha sido substituída por luxo e poder".

A distorção da realidade

E então vem a revelação mais crua: "Perdi completamente a noção do que era certo ou errado." Pare um minuto para digerir isso. Imagine sua bússola moral sendo deliberadamente desmagnetizada, dia após dia, até você não saber mais distinguir norte de sul.

"As coisas mais absurdas começavam a parecer normais", continua, com um tremor quase imperceptível na voz. "É assim que funciona o abuso psicológico — ele não chega com socos, mas com sutilezas que vão corroendo sua alma."

O processo de reconstrução

Mas esta não é uma história sobre vitimização. Longe disso. É sobre resistência. Sobre encontrar forças onde não deveria haver nenhuma. "Demorei anos para entender que não tinha culpa", reflete. "A culpa era dele, do sistema que o protegeu, de todos que fecharam os olhos."

O caminho até aqui não foi linear — aliás, quem disse que processos de cura seguem linha reta? Houve recaídas, noites em claro, terapias intermináveis. Mas também houve pequenas vitórias: o primeiro dia sem pesadelos, a primeira risada genuína, a capacidade de voltar a confiar em alguém.

Por que falar agora?

"Se meu depoimento ajudar uma única pessoa a sair de uma situação similar, já valeu a pena", justifica. E faz todo sentido. Porque o silêncio é o melhor amigo dos abusadores, não é mesmo?

Ela sabe que Epstein está morto, mas seu legado de trauma continua vivo em centenas — talvez milhares — de mulheres. "A justiça precisa ser feita para todas nós", defende com uma firmeza que surpreende depois de tanta vulnerabilidade.

O que fica, no final das contas, é a lição mais dura: monstros reais não vivem debaixo da cama. Eles frequentam os mesmos círculos sociais que nós, vestem ternos caros e têm contatos influentes. Mas sua entrevista também prova outra coisa — que a coragem de uma mulher pode ser mais poderosa que qualquer império construído sobre horrores.