
Era só mais um vídeo entre milhões — até explodir. De repente, todo mundo estava compartilhando aquelas imagens: crianças fazendo acrobacias perigosas, coreografias sensuais, desafios absurdos. A plateia? Milhões de visualizações que se transformam em cifrões.
— Isso não é entretenimento, é exploração disfarçada — dispara a psicóloga infantil Carla Mendes, enquanto ajusta os óculos com um gesto cansado. Ela atende três casos por semana de burnout em menores de 12 anos. Sim, você leu certo: burnout infantil.
O lado sombrio dos likes
Nos bastidores dos vídeos "fofos", rola de tudo:
- Crianças acordadas até 2h da manhã para gravar
- Pais que abandonam empregos para viver da fama dos filhos
- Contratos publicitários que ignoram limites de exposição
E o pior? Tecnicamente, não há crime. A legislação simplesmente não acompanhou essa nova forma de trabalho — se é que podemos chamar assim.
Quando o brincar vira negócio
Marcelo (nome fictício), ex-gerente de um canal infantil com 4M de inscritos, revela o que viu: "Tinha criança que chorava de cansaço entre as takes, mas os pais insistiam: 'Só mais uma, filho, o patrocinador tá esperando'."
Os números assustam:
- 78% dos canais infantis no Brasil são administrados por adultos
- 45% das crianças youtubers mostram sinais de estresse crônico (dados do IPE 2024)
- 0 leis específicas regulamentando essa atividade
— É a versão 4.0 das fábricas da Revolução Industrial — compara o advogado digital Rafael Porto. Só que ao invés de máquinas, as ferramentas são celulares e algoritmos.
E agora?
Enquanto o Congresso discute projetos que emperram há anos, especialistas sugerem:
Para pais: Limitar horários, garantir intervalos, nunca monetizar conteúdos que exponham vulnerabilidades
Para plataformas: Criar alertas quando crianças aparecem em vídeos monetizados
Para todos nós: Pensar duas vezes antes de dar aquele like inocente. Porque por trás da tela, pode estar uma infância sendo negociada.