
O centro de São Paulo amanheceu com mais uma cena triste — dessas que a gente até tenta ignorar, mas que teima em nos cutucar a consciência. Lá estava ele, um homem — nome ainda desconhecido — estendido no chão frio da Praça da Sé, vítima de uma madrugada que fez os termômetros despencarem para temperaturas congelantes.
Parece até clichê, né? Todo inverno a mesma história se repete. Mas dessa vez foi diferente — pelo menos para ele, que não verá o próximo amanhecer.
O Corpo Encontrado ao Amanhecer
Por volta das 6h30 da manhã de sábado, enquanto a maioria dos paulistanos ainda se aconchegava debaixo dos cobertores, os agentes da Guarda Civil Metropolitana faziam sua ronda habitual. Foi então que se depararam com a cena: o homem, que aparentava ter cerca de 40 anos — embora a vida nas ruas tenha essa mania cruel de acrescentar décadas ao rosto — jazia sem vida próximo à estátua do Marco Zero.
O que me faz pensar: quantas pessoas passaram por ali ontem sem lhe dar um olhar? Quantos paulistanos apressados sequer notaram sua presença?
O Frio que Mata
A madrugada de sexta para sábado não deu trégua. Os termômetros registraram 13,1°C na região central — número que pode não assustar quem tem um teto, mas que se transforma em sentença de morte para quem dorme ao relento.
E olha que estamos só no começo da primavera. Imagina quando o inverno de verdade chegar?
- Temperatura mínima: 13,1°C
- Local: Praça da Sé, centro nervoso de SP
- Horário do óbito: estimado entre madrugada e amanhecer
Os peritos do IML levaram o corpo para exames — mais um número numa estatística que ninguém quer encarar.
Uma Pergunta que Não Quer Calar
A gente se pergunta — ou pelo menos deveria se perguntar — quantas tragédias como essa precisam acontecer até que algo mude de verdade. A Prefeitura, claro, diz ter abrigos. Mas será que eles são suficientes? Acessíveis? Humanos?
Enquanto isso, na Praça da Sé, a vida segue seu curso. Turistas tiram selfies, camelôs oferecem suas mercadorias, e o vai-e-vem incessante da cidade parece não notar que alguém acabou de perder a batalha contra o frio — uma batalha que, convenhamos, ninguém deveria ter que lutar.
O homem segue sem identificação. Mais um anônimo numa cidade de 12 milhões. Mas era alguém. Tinha história, memórias, sonhos — talvez já desbotados pela realidade cruel das ruas, mas ainda assim humanos.
E a pergunta que fica, ecoando no ar gelado da Sé: quando é que vamos parar de tratar isso como 'mais um caso' e começar a enxergar como a emergência que realmente é?