
A madrugada de domingo em Salto trouxe consigo uma daquelas tragédias que parecem saídas de um pesadelo urbano. Lá pelas tantas, por volta das 3h30, a rotina silenciosa do Terminal Rodoviário foi quebrada por um grito de horror que ainda ecoa na memória de quem testemunhou.
Era um homem de 52 anos — identidade ainda não revelada — que transformava aquele espaço público em seu quarto improvisado. Quem passa pela rodoviária com frequência sabe: debaixo dos ônibus ele encontrava um refúgio contra o frio, um cantinho que, de alguma forma, chamava de seu.
O momento do acidente
O motorista, um profissional que conhecia aquela rotina como a palma da mão, preparava o veículo para mais um dia de trabalho. Acionou a partida, engatou a marcha... e foi então que o mundo desabou. O ônibus se moveu, e sob suas rodas estava justamente aquele que buscava proteção em sua estrutura metálica.
Testemunhas contam que o barulho foi seco, seguido por um silêncio que doía. Alguém gritou. Outros correram. Mas já era tarde demais.
A resposta das autoridades
O Samu chegou rápido, eu diria que em tempo recorde. Os paramédicos fizeram de tudo — e quando digo tudo, é tudo mesmo — para reanimá-lo. Mas a vida já havia escapado por entre as frestas do asfalto. O corpo foi encaminhado para o IML de Itu, onde aguarda identificação oficial e o reconhecimento por parte de familiares.
A Polícia Civil assumiu o caso, e digo mais: estão tratando com a seriedade que merece. Investigam cada detalhe, cada possibilidade. O motorista, em estado de choque visível, prestou depoimento e foi liberado. A empresa de transporte, por sua vez, se manifestou através de uma nota seca, prometendo colaborar com as investigações.
O retrato de uma realidade dura
O que mais me corta o coração nessa história toda é pensar que aquele homem não era um desconhecido para a rotina do terminal. Muitos o viam ali, dia após dia, buscando um cantinho seguro em meio ao concreto. E no fim, foi justo nesse suposto refúgio que encontrou o fim da linha.
Salto hoje carrega o peso dessa perda. Não é a primeira vez que a vulnerabilidade social mostra sua face mais cruel na nossa região, e temo que não será a última. A pergunta que fica, e que dói na alma, é: quantas outras tragédias anunciadas precisaremos testemunhar antes que algo mude de verdade?
Enquanto isso, nas ruas da cidade, os ônibus continuam seu vai e vem. Mas debaixo deles, o vazio deixado por uma vida interrompida serve como lembrete mudo de que algumas histórias mereciam ter tido um final diferente.