A noite de domingo em Lajinha, no Vale do Jequitinhonha, foi marcada por cenas de tensão e solidariedade. Um casal que buscava abrigo em um imóvel abandonado no Centro da cidade — uma daquelas construções que o tempo foi consumindo — quase teve seu refúgio transformado em armadilha mortal.
Por volta das 22h, as chamas começaram a devorar o velho prédio. O fogo, que não escolhe vítimas, ameaçava duas pessoas que já carregavam nas costas o peso da vulnerabilidade social. A fumaça espessa, aquela que arranca lágrimas e sufoca a esperança, alertou moradores próximos.
Corrida contra o tempo
Os bombeiros chegaram rápido, mas o relógio parecia acelerar. Encontraram o casal — um homem de 44 anos e uma mulher de 42 — desorientados pela fumaça e pelo susto. Ele, inclusive, tentou voltar para dentro do imóvel em chamas. Um ato de desespero que quase custou caro.
"A situação era crítica", contou um dos socorristas, ainda com a voz embargada pela adrenalina. "Eles estavam completamente vulneráveis, sem ter para onde correr. O instinto de sobrevivência falou mais alto."
Além das chamas
O que mais choca nessa história — além do óbvio perigo das chamas — é a realidade crua por trás do incidente. Duas pessoas reduzidas a buscar abrigo em escombros, num jogo diário de roleta russa com a sorte. O incêndio poderia ter sido apenas mais uma estatística triste, mas virou um alerta sobre a invisibilidade social.
Após o resgate, o casal recebeu atendimento médico no local. Felizmente, escaparam ilesos — pelo menos fisicamente. A experiência, porém, deve ter deixado marcas profundas na memória.
E agora?
Fica a pergunta que não quer calar: para onde vão pessoas como esse casal após perderem até mesmo o precário abrigo que tinham? O imóvel ficou completamente destruído, transformando-se em mais uma cicatriz urbana.
A Polícia Militar abriu investigação para desvendar as causas do incêndio. Suspeita-se que possa ter começado com uma fogueira improvisada para aquecer a noite fria do vale — um risco que muitos acabam correndo por pura falta de alternativas.
Enquanto isso, Lajinha tenta voltar à normalidade, mas carrega agora a lembrança de uma noite em que a sorte e a coragem de bombeiros evitaram uma tragédia anunciada.
