
Ela respira fundo antes de começar. A voz, às vezes, some quase num sussurro. Outras vezes, ganha uma força que surpreende até ela mesma. Trinta e poucos anos depois, a brasileira finalmente consegue colocar em palavras o que Jeffrey Epstein lhe fez quando tinha apenas 14 anos.
"A gente pensa que esquece, mas o corpo lembra. A mente disfarça, mas o corpo guarda tudo", diz ela, com aquela mistura de coragem e vulnerabilidade que só quem sobreviveu ao inferno conhece.
O começo do pesadelo
Foi assim, devagar, que tudo começou. Um processo de sedução doentio que ela, adolescente, não tinha como entender.
"Primeiro foi a blusa. Depois o sutiã. E foi evoluindo..." Ela para, respira. "Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Era metódico, calculista. Um predador que estudava sua presa."
O relato é um daqueles que dói na alma. Aos 14 anos, uma menina brasileira se viu nas garras de um dos criminosos sexuais mais notórios da história recente. Epstein, o bilionário que comprava impunidade com seu dinheiro, tinha métodos específicos para atrair e manipular menores.
A ilha privada e os voos da morte
Ah, a famosa ilha... Little Saint James. Parece nome de resort paradisíaco, mas era tudo menos isso. "Nos aviões, ele já começava o assédio", revela. "Aqueles voos particulares eram armadilhas no ar. Você está a milhares de metros do chão, sem para onde escapar."
E ela detalha: Epstein usava seu poder, seu dinheiro, sua influência como isca. Oferecia oportunidades, educação, um futuro melhor. Tudo mentira, claro. Tudo parte do jogo perverso.
O silêncio que dói
Por que demorou tanto para falar? Ela suspira, e a resposta vem carregada de uma dor que parece fresca, mesmo depois de décadas.
"Medo. Vergonha. E aquela pergunta que não cala: será que alguém vai acreditar em mim?"
O trauma não some magicamente. Ela fala sobre pesadelos que persistem, sobre desconfiança em relacionamentos, sobre a dificuldade de ser mãe e pensar que existem monstros como Epstein soltos por aí.
Justiça tardia?
Com a morte de Epstein na prisão, muitas vítimas sentiram que a justiça completa lhes foi roubada. Mas ela vê diferente.
"Cada depoimento, cada história que vem à tona, é uma pequena vitória. Mostra que não estamos mais sozinhas."
Ela fala sobre as outras mulheres, sobre a rede de apoio que se formou entre vítimas que nunca se conheceram pessoalmente, mas que compartilham o mesmo pesadelo.
O recado para outras vítimas
"Se você passou por algo parecido, fale. Não guarde isso só para você." A voz dela fica mais firme aqui. "O silêncio é o que alimenta esses monstros."
Ela reconhece que falar é difícil - caramba, é mais que difícil, é assustador. Mas insiste: vale a pena. Vale cada palavra, cada lágrima, cada noite mal dormida antes de dar entrevistas como esta.
O caso Epstein continua rendendo. Novos nomes surgem, novas conexões aparecem. E no meio de tudo isso, histórias como a desta brasileira mostram que por trás dos escândalos midiáticos, há pessoas reais tentando reconstruir suas vidas.
"A cura não é linear", ela finaliza. "Alguns dias são bons. Outros... bem, outros são de reviver tudo de novo. Mas hoje posso olhar no espelho e dizer: sobrevivi."
E sobreviver, depois de tudo que passou, já é uma vitória e tanto.