
Parece que a Anatel resolveu dar um presente — duvidoso, diga-se — para as empresas de telemarketing. A partir de agora, acabou aquela velha e boa (ou má, dependendo do ponto de vista) obrigatoriedade do prefixo 0303 nas ligações comerciais. E olha, não foram poucos os que torceram o nariz.
Procons de vários estados e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) já estão de cabelo em pé. A justificativa? Simples: sem o 0303, fica muito mais difícil saber se aquela ligação insistente é um vendedor legítimo ou um golpista criativo. E convenhamos, nos tempos atuais, diferenciar um do outro já não era lá essas coisas.
"Presente de grego" para o consumidor
"É um retrocesso absurdo", dispara o coordenador de telecomunicações do Idec, enquanto toma um gole de café amargo — deve ser de tanto lidar com decisões assim. Ele lembra que o prefixo era uma espécie de "selo de identificação" que ajudava o cidadão comum a filtrar o joio do trigo. Agora? Bom, agora é cada um por si.
Do outro lado, a Anatel argumenta que a medida "moderniza" o setor. Moderniza como? Ah, isso ninguém sabe explicar direito. O que se sabe é que as empresas de telemarketing comemoraram — e muito. Afinal, quem não gostaria de sumir com aquele número que todo mundo já decorou como sinônimo de incômodo?
E os golpes?
Pois é. Enquanto isso, os especialistas em segurança digital já estão vendo a poeira subir. Sem o 0303, fica muito mais fácil aplicar golpes — e o pior: sem deixar rastros claros. Imagina só: você atende achando que é seu banco, mas na verdade é alguém querendo sua senha do cartão. E aí? Como bloquear isso?
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No meio dessa confusão toda, uma coisa é certa: o consumidor brasileiro — já tão sofrido com ligações indesejadas — pode ter mais um problema para a lista. E olha que a lista não é pequena...
Será que alguém aí na Anatel parou para pensar nisso? Ou será que o lobby das telemarketing falou mais alto? Difícil dizer. O que sabemos é que, quando o assunto é proteger o cidadão comum, parece que sempre sobra para o lado mais fraco. E aí, como diz o ditado, "o seguro morreu de velho".