
O tapete vermelho do plenário parece estar ficando cada vez mais escorregadio. Com a prisão em flagrante da deputada Carla Zambelli (PL-SP) nesta terça-feira, o clima na Câmara dos Deputados lembra aqueles filmes de suspense onde ninguém sabe quem será o próximo.
Não é exagero. A situação da parlamentar — detida após ameaçar uma enfermeira com arma de fogo em São Paulo — jogou gasolina na fogueira que já queimava sob os pés de pelo menos outros 15 colegas de parlamento. Todos eles, diga-se de passagem, com processos de cassação pairando sobre as cabeças como espadas de Dâmocles.
Efeito dominó?
Entre os corredores do Congresso, o burburinho é unânime: "A Zambelli virou o canário na mina de carvão", como me confessou um assessor parlamentar que preferiu não se identificar. A metáfora, embora dramática, faz sentido. Afinal, se até uma figura midiática como ela não escapou das consequências de seus atos...
Os números impressionam:
- 15 processos de cassação em tramitação no Conselho de Ética
- 7 deles com pareceres favoráveis à perda de mandato
- 3 casos considerados "prioritários" pela presidência da Câmara
E olha que estamos falando apenas dos processos mais adiantados. Na fila de espera, outros 20 parlamentares respiram aliviados — por enquanto — enquanto observam o desenrolar do caso Zambelli com a atenção de quem assiste a um tutorial de sobrevivência.
O jogo das cadeiras musicais
O que pouca gente percebe é que esse não é um drama isolado. O caso da deputada paulista escancara uma realidade incômoda: o Congresso Nacional está virando um verdadeiro campo minado jurídico. E não, não estou sendo alarmista.
"Quando a água bate na bunda, todo mundo aprende a nadar", brincou (ou não) um veterano da casa, referindo-se ao súbito interesse dos colegas por aulas de compliance e boas práticas parlamentares. Ironias à parte, o fato é que o caso Zambelli pode ter aberto um precedente perigoso — ou saudável, dependendo do ponto de vista.
Entre os nomes que estão com o sono mais leve esta noite, destacam-se:
- Deputados envolvidos em escândalos de violência doméstica
- Parlamentares acusados de assédio moral
- Membros com processos por uso indevido de verba pública
Não é difícil entender o porquê. Com a opinião pública cada vez mais atenta e menos tolerante, o tradicional "jeitinho brasileiro" parece estar com os dias contados no Legislativo. Ou pelo menos é o que esperam os eleitores.
E agora, José?
Enquanto os gabinetes vivem um clima de "quem será o próximo?", especialistas em direito constitucional alertam: o caso Zambelli pode marcar um ponto de virada. "Estamos vendo a materialização do que antes era apenas teoria", explica o jurista Renato Alencar. "O princípio da imunidade parlamentar nunca foi — ou pelo menos nunca deveria ter sido — um salvo-conduto para crimes comuns."
Mas calma lá, nem tudo são flores. O mesmo especialista ressalva: "Por outro lado, precisamos tomar cuidado para que situações pontuais não virem caça às bruxas. O equilíbrio entre responsabilização e preservação da função parlamentar é delicado".
Enquanto o debate esquenta, uma coisa é certa: as próximas sessões do Conselho de Ética prometem ser mais concorridas que show de rock. E você, acha que esse é o começo de uma nova era na política brasileira ou apenas mais um capítulo isolado?