
Eis que surge na Assembleia Legislativa de São Paulo uma proposta que é, no mínimo, carregada de simbolismo. O deputado estadual Gilmaci Santos (Republicanos) resolveu mexer num vespeiro da memória da segurança pública paulista.
Ele apresentou um projeto de lei que quer batizar o Núcleo do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (DEIC) em São Vicente com o nome de Antonio José dos Santos. Quem foi esse homem? Ah, aí é que a história ganha um peso dramático.
Uma vida interrompida pela violência
Antonio José, ou Tonhão como era conhecido nos corredores da polícia, não era um delegado qualquer. À frente da Delegacia de Homicídios de São Vicente nos anos 90, ele cavou fundo em investigações que tocavam em nervos expostos do crime organizado. E, como era de se esperar nesse jogo de gato e rato com facções poderosas, o risco era seu companheiro de plantão.
Até que, numa sexta-feira daquelas, 23 de novembro de 2001, o pior aconteceu. Saindo de casa, no bairro da Área Continental, ele foi surpreendido por homens armados. Executado a sangue frio, com nada menos que dez tiros. A cena chocou a corporação e a cidade.
E o motivo? A Polícia Civil, na época, não teve dúvidas: foi um recado claro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Uma represália pelas investigações incansáveis que o delegado conduzia. Uma tentativa – que infelizmente deu certo – de calar quem ousava enfrentá-los.
Mais do que uma placa, um símbolo de resistência
O deputado Gilmaci Santos defende a homenagem com unhas e dentes. Na justificativa do projeto, ele vai direto ao ponto. Batizar o DEIC com o nome de Antonio José não é só colocar uma placa na parede. É, nas palavras dele, «reconhecer a bravura de um homem que dedicou sua vida ao combate ao crime, pagando o preço máximo».
É transformar o local de trabalho de novos investigadores em um lembrete permanente. Um lembrete dos riscos, da coragem necessária e, também, da dívida que o Estado tem com aqueles que perdem a vida no cumprimento do dever.
Parece que a ideia já começou a ecoar em algumas esferas. O atual delegado-chefe do DEIC, Carlos Alberto de Oliveira, deu seu aval à proposta. Sinal de que, dentro da própria instituição, a memória do colega assassinado ainda ressoa com força.
E agora, o que esperar?
O projeto de lei, de número 1.327/2025, agora segue para as comissões temáticas da Alesp. Vai passar pelo crivo de outros deputados, ser analisado sob todos os aspectos jurídicos e, só então, poderá ser votado em plenário.
Enquanto isso, a pergunta fica no ar: numa época em que a violência do crime organizado ainda assombra o país, homenagens como essa servem apenas para o passado, ou são um combustível para o presente? A resposta, talvez, esteja não na lei, mas no dia a dia dos policiais que continuam na linha de frente.
Uma coisa é certa: a história do delegado Antonio José, silenciada há mais de duas décadas, está prestes a ganhar um novo capítulo. E bem no coração de uma unidade dedicada a combater o mesmo mal que o vitimou.