
A noite que deveria ser de diversão entre amigos quase terminou em tragédia. Um jovem de 23 anos — vamos chamá-lo de Pedro para preservar sua identidade — nunca imaginou que um simples drink pudesse lhe custar a visão, mesmo que temporariamente.
Era sábado, 27 de setembro, quando ele e seu amigo de 24 anos deceriram experimentar uma garrafa de gin comprada em um estabelecimento comercial da Zona Leste de São Paulo. O que parecia ser apenas mais uma bebida alcóolica se revelaria um veneno disfarçado.
Os primeiros sinais de alerta
Horas depois de consumirem a bebida, os dois jovens começaram a sentir sintomas preocupantes. "Minha visão começou a ficar embaçada, como se estivesse vendo tudo através de um véu", relatou Pedro posteriormente aos médicos. Mas isso era só o começo.
Enquanto Pedro perdia completamente a visão, seu amigo apresentava sintomas ainda mais graves — convulsões e perda de consciência. O pânico se instalou entre o grupo de amigos, que rapidamente percebeu que aquilo ia muito além de uma simples embriaguez.
A corrida contra o tempo
No Hospital Municipal Tide Setúbal, na Zona Leste da capital, os médicos não tiveram dúvidas: era um caso clássico de intoxicação por metanol. Essa substância, quando ingerida, se transforma em ácido fórmico no organismo — um composto extremamente tóxico que ataca principalmente o nervo óptico e o sistema nervoso central.
O tratamento foi iniciado imediatamente. Hemodiálise para filtrar as toxinas do sangue, etanol para bloquear a metabolização do metanol e um coquetel de vitaminas para proteger o sistema nervoso. Enquanto Pedro respondia bem ao tratamento, recuperando parcialmente a visão após dois dias, seu amigo seguia lutando pela vida na UTI.
O perigo escondido nas garrafas
O caso acende um alerta vermelho sobre um problema que, infelizmente, não é novidade no Brasil. Bebidas adulteradas com metanol são mais comuns do que se imagina — e o pior, muitas vezes são indistinguíveis das originais pelo consumidor comum.
"O metanol é muito mais barato que o etanol, por isso alguns comerciantes inescrupulosos o utilizam para aumentar seus lucros", explica um toxicologista que prefere não se identificar. O que esses comerciantes parecem ignorar — ou simplesmente não se importar — é que bastam 30ml de metanol para causar cegueira permanente, e pouco mais que isso pode ser fatal.
Como se proteger?
Algumas dicas podem ajudar a identificar bebidas adulteradas:
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado
- Observe a qualidade da rotulagem e da embalagem
- Compre apenas em estabelecimentos de confiança
- Preste atenção no gosto — metanol pode deixar um sabor mais adocicado
Mas a verdade é que, sem testes laboratoriais, é praticamente impossível garantir a segurança. E aí mora o perigo.
E agora?
Enquanto isso, as autoridades já iniciaram as investigações. A Vigilância Sanitária recolheu amostras da bebida para análise, e a Polícia Civil abriu inquérito para apurar a responsabilidade do estabelecimento onde o produto foi adquirido.
Pedro, agora com a visão recuperada mas marcado pelo susto, tenta retomar sua vida. Seu amigo, no entanto, permanece internado em estado grave. Um lembrete cruel de como uma simples escolha — qual bebida comprar — pode mudar vidas para sempre.
O caso serve de alerta para todos nós. Num país onde a fiscalização ainda deixa a desejar, a responsabilidade pela própria segurança acaba, em grande parte, nas mãos do consumidor. E como diz o velho ditado: o barato que sai caro, neste caso, pode custar muito mais que dinheiro.