
Três décadas. É o tempo que José Alves, um morador antigo de Samambaia, no Distrito Federal, espera por uma solução para o escoamento de água na região. "Parece que vivemos no tempo das cavernas", desabafa ele, enquanto aponta para a rua alagada em frente à sua casa — cenário que se repete toda vez que chove.
Não é exagero. Basta uma chuva moderada para que as ruas virem rios improvisados, invadindo garagens e até mesmo o interior das residências. "Minha esposa já perdeu móveis, eletrodomésticos... E o cheiro? Nem se fala", conta José, visivelmente frustrado.
O problema que virou "normal"
O que era para ser emergência virou rotina na QN 210. Os moradores — muitos deles idosos — desenvolveram até "técnicas" caseiras para conter a água:
- Sacolas de areia nas portas
- Canos improvisados feitos de garrafas PET
- "Barreiras" de madeira reaproveitada
"É humilhante ter que viver assim em pleno século XXI", dispara Maria das Graças, aposentada que já sofreu três quedas tentando atravessar a rua alagada.
Promessas que evaporam
Todo verão é a mesma história: autoridades visitam o local, prometem soluções, e... nada. "Ano passado vieram, filmaram, disseram que iam resolver. Só esqueceram de avisar quando", ironiza Carlos, dono de um pequeno comércio local que perde clientes nos dias de chuva.
Enquanto isso, os problemas se acumulam:
- Risco de doenças como dengue e leptospirose
- Prejuízos materiais recorrentes
- Desvalorização imobiliária
- Isolamento de idosos e pessoas com mobilidade reduzida
O mais absurdo? Há bairros vizinhos com sistemas modernos de drenagem. "Parece que somos cidadãos de segunda classe", lamenta uma moradora que preferiu não se identificar.
E agora?
Apesar do cansaço, a comunidade não desistiu. Um abaixo-assinado circula pelo bairro, e os moradores prometem pressionar as autoridades novamente. "Talvez na quarta década a gente consiga atenção", brinca José, sem esconder o tom de amargura.
Enquanto a solução não vem, resta aos habitantes de Samambaia conviver com o que chamam de "maré urbana" — um fenômeno que, diferentemente do oceano, não tem nada de natural.