
Os números são crus, diretos e assustadores. Enquanto a cidade segue seu ritmo normal, uma epidemia silenciosa vai ceifando vidas sobre duas rodas. Dados recentes do Infosiga - aquele sistema que mapeia a violência no asfalto - mostram que os homens pilotando motos estão morrendo muito, mas muito mais do que antes.
Imagine só: de janeiro a agosto deste ano, 18 motociclistas perderam a vida nas ruas de Piracicaba e Limeira. No mesmo período do ano passado? Sete. A matemática é dolorosa: um salto de 157%. Não são números, são pais, filhos, irmãos que não voltaram para casa.
O retrato de uma tragédia anunciada
O que está acontecendo nas estradas da nossa região? Especialistas em trânsito - aqueles que estudam isso há décadas - apontam para uma combinação perigosa: mais motos circulando, pressa para entregas, e talvez uma certa impunidade que vai se instalando no psicológico de quem pilota.
"A moto oferece uma sensação de liberdade, mas é frágil como uma casca de ovo", me disse um experiente instrutor de autoescola que preferiu não se identificar. "O problema é que muitos jovens tratam o veículo como se fosse um brinquedo, não uma máquina potencialmente letal."
E as outras vítimas?
Olhando o panorama geral, o sistema registrou 35 óbitos no trânsito da região até agosto. Desses, 51,4% eram motociclistas. Os pedestres aparecem em segundo lugar - nove mortes, representando 25,7% do total. Os ocupantes de automóveis somaram quatro vidas perdidas.
Um detalhe que chama atenção: a faixa etária mais atingida está entre 20 e 59 anos. Justamente a população economicamente ativa, aquela que sustenta famílias, constrói o futuro da região.
E as notícias não são totalmente ruins
Curiosamente, enquanto as mortes de motociclistas dispararam, o número total de óbitos no trânsito apresentou redução. Caiu de 42 para 35 na comparação entre 2024 e 2025. Parece contraditório, não? Mas mostra que os outros modais estão sim mais seguros - carros, pedestres, ciclistas.
Só que essa melhora geral esconde uma realidade dura: a motocicleta se tornou o elo mais fraco - e mais perigoso - da cadeia do trânsito.
O que fazer diante desse cenário?
Especialistas sugerem um conjunto de medidas urgentes:
- Campanhas educativas específicas para motociclistas, mostrando os riscos reais
- Fiscalização mais rigorosa do uso de equipamentos de segurança
- Políticas públicas voltadas para a proteção desse grupo vulnerável
- Investimento em infraestrutura que considere as particularidades das motos
No final das contas, trânsito seguro não é sobre números e estatísticas. É sobre pessoas. É sobre garantir que cada pessoa que saia de casa de manhã volte inteira no final do dia. E pelos dados atuais, temos falhado feio nessa missão quando o assunto são os homens sobre duas rodas.