
Era para ser mais um dia comum — desses que a gente nem lembra depois. Mas pra família de Lucas (nome fictício), 22 anos, o 9 de agosto de 2025 virou uma data marcada a ferro e fogo. O jovem autista, que adorava um misto-quente da lanchonete da esquina, nunca mais voltou pra casa depois de tentar atravessar a rua.
Segundo testemunhas, o que deveria ser uma travessia rápida virou pesadelo. Um carro em velocidade acima do permitido — dizem que dava pra ouvir o motor rugindo — não teve chance de frear a tempo. Lucas, que segundo a família tinha dificuldade pra calcular distâncias, ficou no meio do caminho.
"Ele só queria um lanche"
"Meu irmão não volta mais", desabafa a irmã mais velha, com a voz embargada. A gente percebe que ela repete essa frase como se ainda não acreditasse. No quarto dele, a coleção de gibis continua intacta, e o uniforme da escola especial ainda está pendurado atrás da porta.
O caso levantou um debate importante: como a cidade trata (ou deixa de tratar) a segurança de pessoas com necessidades especiais no trânsito? A família aponta que não havia:
- Faixa de pedestre visível no local
- Sinalização sonora para deficientes visuais
- Redutores de velocidade
O motorista, um homem de 35 anos que trabalhava como entregador, alega que "o sol estava baixo e ofuscou a visão". Mas os peritos já adiantaram que o carro estava a pelo menos 20km/h acima do limite da via.
Justiça ou esquecimento?
Enquanto isso, a família se apega a pequenos rituais pra manter a memória de Lucas viva. Toda quarta-feira — dia que ele ia buscar o lanche — agora viram dia de levar flores pro cruzamento onde tudo aconteceu. "A gente não vai deixar virar só mais um número", promete o pai, mostrando a camiseta com o rosto do filho que agora usa em protestos.
O caso segue sob investigação, mas já rendeu promessas da prefeitura de revisar a sinalização em áreas escolares. Só que pra família Souza, nenhuma placa nova vai trazer de volta o sorriso desengonçado que iluminava a sala de estar todas as noites.