
Era uma manhã como qualquer outra para Edvaldo Alves, 46 anos. O sol ainda nem havia nascido por completo, aquela luz fraca que precede o dia. Ele percorria sua rota habitual, na BA-093, no trecho que corta Candeias, na Região Metropolitana de Salvador. O asfalto escuro, o ar fresco, o som ritmado da própria respiração. A estrada era sua aliada, seu espaço de paz.
Até que, num piscar de olhos, tudo virou de cabeça para baixo.
"Não deu tempo de pensar, de reagir. Foi um impacto seco, violento. Uma coisa surreal", desabafa ele, a voz ainda carregada daquela mistura de incredulidade e dor que teima em não ir embora. Um motorista, talvez distraído, talvez imprudente, simplesmente não o viu. O carro atingiu Edvaldo em cheio, arremessando seu corpo para longe.
O que se seguiu foi um turbilhão. A dor aguda, o desespero, a corrida contra o tempo para chegar ao hospital. Os médicos tentaram de tudo, lutaram com unhas e dentes para salvar seu membro. Mas os ferimentos eram gravíssimos, irreversíveis. A difícil e devastadora decisão precisou ser tomada: uma amputação transtibial da perna direita.
O Longo Caminho da Recuperação
Acordar e descobrir que uma parte de você se foi não é fácil. Nem um pouco. "É um baque que vai muito além do físico", confidencia Edvaldo. "É uma montanha-russa emocional que ninguém está preparado para enfrentar."
Mas e daí? Ficar parado? Reclamar da vida? Essa nunca foi a praia dele. A mesma força que o impulsionava nas corridas agora alimenta sua recuperação. São fisioterapias doloridas, sessões intermináveis, aprendizado de uma nova forma de se locomover. Cada pequeno progresso, uma vitória colossal.
Ele já está até mesmo se adaptando ao uso de uma prótese. Imagina só a coragem? Trocar o asfalto pelas sessões de terapia, mas com o mesmo espírito de atleta.
Um Grito por Conscientização
Mais do que compartilhar sua própria dor, Edvaldo quer que sua história sirva de alerta. Um grito por mais atenção no trânsito. "As pessoas precisam entender que um carro não é um brinquedo. É uma arma de toneladas nas mãos de quem é negligente", adverte, com a autoridade de quem viveu a tragédia na pele.
Ele faz um apelo direto aos motoristas: "Diminuam a velocidade. Olhem duas, três vezes. Olhem pelos retrovisores. Um segundo de distração pode acabar com uma vida, ou transformá-la radicalmente para sempre. Não custa nada ter cuidado."
O caso, registrado como acidente de trânsito, está sendo investig pela Polícia Civil baiana. A busca pelo motorista que fugiu sem prestar socorro continua. Uma atitude que, para Edvaldo, só aumenta a ferida.
Sua mensagem final é um misto de esperança e advertência. "Sigo em frente, um dia de cada vez. Mas que a minha história ecoe. Que ninguém mais precise passar por isso." Uma lição dura, aprendida da pior maneira possível.