
O coração de Nuporanga ainda bate descompassado. Naquela curva maldita da SP-330, onde o asfalto engoliu sonhos, 12 jovens universitários perderam a vida num piscar de olhos. E agora? Agora restam lágrimas, perguntas sem resposta e uma dor que não cabe no peito.
Era uma sexta-feira comum — ou pelo menos deveria ser. O ônibus que levava os estudantes de Agronomia da UNESP desgovernou feito pipa sem linha. Testemunhas contam que o veículo capotou várias vezes antes de parar, esmagado contra um barranco. Um verdadeiro pesadelo em plena luz do dia.
O grito das famílias
Na delegacia, o clima é de revolta. "Isso não foi acidente, foi negligência!", dispara o pai de Lucas, 22 anos, com a voz embargada. Ele não está sozinho. Dezenas de familiares ocuparam o Fórum da cidade exigindo apuração rigorosa. Querem saber por que o motorista — que sobreviveu milagrosamente — insistiu em viajar com pneus carecas.
Entre os mortos, histórias interrompidas:
- Ana Clara, 20 anos, que sonhava em revolucionar o agronegócio sustentável
- Pedro Henrique, 23, campeão de xadrez e voluntário em projetos sociais
- Mariana, 19, a primeira da família a entrar na universidade
O prefeito de Nuporanga declarou luto oficial de 30 dias, mas as mães dos estudantes querem mais que bandeiras a meio mastro. "Promessas não devolvem meus filhos", desabafa dona Marta, segurando a foto da filha com unhas pintadas de roxo — sua cor preferida.
Investigação sob pressão
A Polícia Civil já apreendeu as caixas pretas do ônibus, mas o laudo completo deve demorar. Enquanto isso, nas redes sociais, a hashtag #JustiçaParaOs12 viralizou. Até celebridades como o cantor Zé Neto se manifestaram: "O Brasil chora com essas famílias".
Especialistas em trânsito ouvidos pelo G1 apontam falhas graves:
- Falta de manutenção preventiva no veículo
- Excesso de velocidade comprovado pelo tacógrafo
- Ausência de cinto de segurança funcionando em vários assentos
Na UNESP, o clima é de luto coletivo. Colegas organizaram um memorial improvisado no campus, com flores, cartas e os uniformes que nunca mais serão usados. "Eram os melhores da turma", conta a professora Denise, limpando os óculos embaçados. "O país perdeu mentes brilhantes."
Enquanto a justiça não vem — e ela virá, insistem os pais — Nuporanga aprende a dura lição: às vezes, o preço do descaso se mede em vidas, não em reais. E essa conta, ninguém deveria ter que pagar.