
Numa daquelas jogadas de mestre que só quem já esteve no poder três vezes sabe fazer, Lula resolveu bater um papo com o mundo — literalmente. E escolheu o palco mais cobiçado do planeta: as páginas de opinião do New York Times. A coisa toda veio recheada de farpas veladas, comemorações discretas e um recado que ecoa além das fronteiras.
O ponto que mais salta aos olhos — e que não passou batido por ninguém com um mínimo de radar político — foi a menção direta à condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. Lula não só citou o fato como enfatizou, com um tom quase solene, que sente "orgulho" de ver uma instituição brasileira funcionando com tanta independência. Algo como: "a casa caiu para quem não respeitou as regras do jogo".
Mas não para por aí. O artigo vai além da política doméstica e mergulha de cabeça no pantanoso terreno das relações internacionais. Lula, com a experiência de quem já jantou com líderes de todos os cantos, defende que o Brasil mantenha diálogo aberto com os Estados Unidos, não importa quem vença a eleição presidencial de novembro. Trump ou Biden? Tanto faz. O Itamaraty não pode ficar refém de simpatias ideológicas.
E aqui vem a cereja do bolo: ele ainda deu um puxão de orelha sutil — mas perceptível — naquela tendência global de polarização que, segundo ele, só enfraquece as nações. Para Lula, o Brasil deve ser uma ponte, não um muro. Um país que conversa com todo mundo, seja o governo que for.
Não é de hoje que Lula usa a imprensa internacional como megafone. Mas desta vez, o timing foi perfeito. Logo após uma decisão histórica do STF que condenou seu antecessor, o artigo soa como um reforço narrativo potente. Uma maneira de dizer: aqui, as instituições funcionam.
O recado, claro, é tanto para dentro quanto para fora. Para o público interno, reafirma a ideia de um país que superou turbulências recentes. Para o exterior, posiciona o Brasil como um ator estável e confiável no tabuleiro global.
Resta saber como essa mensagem será recebida — tanto por conservadores americanos quanto por aqueles por aqui que ainda veem o STF com desconfiança. Mas uma coisa é certa: Lula não veio para jogar xadrez sozinho. Ele trouxe o tabuleiro inteiro.