
Imagine sua vida pendurada num fio, dependendo da generosidade alheia num momento de tragédia. É assim que mais de 900 pessoas no Piauí encaram cada amanhecer. Paradoxalmente, enquanto a fila não para de crescer, o estado acaba de registrar o seu primeiro semestre mais bem-sucedido na história dos transplantes.
Dados oficiais — aqueles números que doem na alma — mostram que 92 vidas foram transformadas por meio de procedimentos de transplante entre janeiro e junho de 2025. Um marco, sem dúvida. Mas a matemática da esperança ainda não fecha: a lista de espera, cruel e silenciosa, segue com 917 nomes.
Os Números que Ninguém Quer Ver
Desse total angustiante, 862 sonham com um rim. Outras 55 aguardam por um fígado. E tem gente na fila por córnea, mas esses dados são separados — como se cada tipo de espera pudesse ser isolada.
Não pode.
O que salva, o que truly faz a diferença neste cenário, é a taxa de recusa familiar. E aqui, uma luz: no Piauí, ela caiu para 35%. Traduzindo? Mais famílias, no auge da dor, dizem "sim" para a doação. Um ato de coragem que virou rotina nos hospitais piauienses.
Mas Por Que a Fila Não Diminui?
Boa pergunta. A verdade é que o sistema melhorou — e muito — mas a demanda ainda supera a oferta. Mais pessoas são incluídas na lista do que o número de transplantes realizados. É enxugar gelo? Quase isso.
A Central de Transplantes do Piauí, que funciona no Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella, em Teresina, virou um centro de guerra contra o tempo. Eles gerenciam a esperança com critério, prioridade e — por que não dizer — muito suor.
E Os Transplantes de Medula?
Ah, esses são outra história. Nem entram na conta geral porque seguem um fluxo próprio, geralmente envolvendo doadores vivos ou bancos nacionais. Mas a necessidade existe, e como.
No fim das contas, o Piauí está melhorando. Mas ainda não o suficiente. A conscientização sobre doação de órgãos precisa continuar — nas escolas, nos programas de TV, nas conversas de bar. Porque doar órgãos não é um gesto mórbido. É, talvez, a maior prova de que a vida de alguém pode seguir adiante mesmo depois da nossa.
E você? Já conversou com sua família sobre isso?