
Eis que o universo das redes sociais — tão cheio de filtros, cores e opiniões — ganha um novo capítulo. Dessa vez, não é um trend passageiro ou dance challenge. É algo mais profundo. Necessário. No Espírito Santo, psiquiatras resolveram entrar na roda e lançaram um material que promete balançar as estruturas do conteúdo sobre saúde mental na internet.
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (Cremees), em parceria com a Associação Capixaba de Psiquiatria, elaborou uma cartilha direcionada especificamente a influenciadores digitais. Sim, você leu certo: criadores de conteúdo agora têm um guia prático para abordar temas delicados sem cair em armadilhas perigosas.
Não é censura. É direcionamento.
A motivação por trás desse movimento não é podar a liberdade de expressão — longe disso. É sobre evitar que bem-intencionados vídeos e posts, muitas vezes feitos por leigos, acabem incentivando automedicação, banalizando diagnósticos ou até romantizando sofrimento mental.
— A gente vê cada vez mais pessoas falando sobre antidepressivos, crises de ansiedade, transtornos… E muitas vezes o conteúdo é superficial ou até perigoso — comenta um dos psiquiatras envolvidos, que preferiu não ser identificado. — Não dá mais pra ignorar isso.
O que tem dentro da cartilha?
O documento não é apenas uma lista de "não faça". Ele é construído com uma abordagem positiva, educativa. Entre os principais tópicos, destaque para:
- Como diferenciar desabato de desinformação;
- Os perigos de autodiagnósticos e indicações médicas sem formação;
- Fontes confiáveis de pesquisa e referência;
- A importância de incentivar procurar ajuda profissional — e não seguir conselhos de internet.
Nada de linguagem técnica ou difícil. O tom é acessível, quase conversado — como deve ser quando se fala com quem se comunica para milhares.
Um chamado à responsabilidade
Não é exagero dizer: influenciadores moldam opiniões. Geram engajamento. Movimentam comportamentos. E quando o assunto é saúde — ainda mais mental —, a brincadeira fica séria.
— Já vi gente indicando remédio como se fosse bala. Gente dizendo que "todo mundo tem TDAH". Gente tratando transtorno bipolar como se fosse mudança de humor de uma tarde chuvosa — relata uma psicóloga que acompanha o projeto. — Isso precisa parar.
A expectativa é que a cartilha circule em ambientes de formação de criadores de conteúdo, redes sociais e, claro, entre os próprios médicos, que podem replicar o conhecimento com seus pacientes que também são digital creators.
Porque no fim das contas, todo mundo ganha: os influenciadores, que passam a criar com mais segurança; o público, que consome informação de qualidade; e a saúde mental, que deixa de ser tratada como tema de engajamento e vira, de verdade, pauta de cuidado.