
Imagine um hospital onde pacientes e médicos não precisam recorrer à Justiça para resolver questões básicas. Parece utopia? Pois especialistas garantem que há caminhos possíveis — e alguns já estão sendo trilhados no Espírito Santo.
O que está por trás da judicialização?
Não é segredo que o sistema de saúde vive sob pressão. Filas intermináveis, falta de medicamentos, exames que demoram meses... Quando a situação aperta, muitos veem na Justiça a única saída. Mas será mesmo?
"Temos que parar de tratar sintomas e ir à raiz do problema", defende a médica Luana Mendes, com 15 anos de experiência no SUS. Segundo ela, três fatores alimentam o ciclo:
- Falta de comunicação clara entre profissionais e pacientes
- Burocracia que transforma simples pedidos em verdadeiras odisseias
- Desconhecimento sobre os direitos (e deveres) de cada parte
Alternativas que estão dando certo
Em Vitória, um projeto piloto está virando o jogo. Criaram os chamados "Núcleos de Mediação" — espaços onde conflitos são resolvidos antes de virar processos. Funciona assim:
- O paciente apresenta sua queixa a uma equipe multidisciplinar
- Médicos, assistentes sociais e juristas avaliam o caso juntos
- Encontram soluções personalizadas, sem precisar de ações judiciais
Resultado? Em seis meses, reduziram em 40% os casos judicializados na região. "É como consertar um vazamento antes que alague toda a casa", compara o gestor hospitalar Rogério Silva.
O papel da tecnologia
Quem pensa que a solução está apenas no diálogo humano, se engana. Plataformas digitais estão surgindo para agilizar processos internos — desde agendamentos até a liberação de exames. "Quando o sistema funciona, sobra menos motivo para judicializar", observa a especialista em saúde digital Camila Porto.
Mas atenção: tecnologia sem humanização vira armadilha. "Nenhum aplicativo substitui o olho no olho", alerta o psicólogo hospitalar Marcelo Almeida. Ele defende um equilíbrio delicado entre eficiência e acolhimento.
No fim das contas, parece que a receita é simples (mas não fácil): ouvir mais, burocratizar menos e encontrar meios criativos antes que os problemas escalem. Como diz um velho ditado médico: "Melhor prevenir do que remediar" — e no caso da judicialização, isso vale em dobro.