
Eis uma notícia que vai fazer diferença na vida de milhares de famílias brasileiras. O Ministério da Saúde, numa jogada mais do que necessária, acaba de anunciar uma nova linha de cuidado para o Transtorno do Espectro Autista (TEA) dentro do SUS. Finalmente!
Não se trata apenas de mais um protocolo bonito no papel. A coisa é séria: pela primeira vez, o sistema público de saúde terá diretrizes nacionais unificadas para identificar e tratar o autismo desde os primeiros sinais. E olha, a demora no diagnóstico é justamente um dos maiores gargalos que a gente enfrenta por aí.
O Que Realmente Vai Mudar?
O cerne da questão – e isso é brilhante – é a organização de uma rede de atenção multidisciplinar. Imagine uma criança com suspeita de TEA sendo acompanhada não por um, mas por vários profissionais de uma vez só: pediatra, neurologista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional. Tudo coordenado, sem aquele peregrinar desumano entre consultórios.
O plano prevê três eixos principais, e faz todo o sentido:
- Rastreamento e Diagnóstico Precoce: Capacitar equipes da Atenção Primária (as UBSs) para identificar os primeiros sinais ainda nos primeiros anos de vida. Quanto antes, melhor.
- Intervenção Terapêutica: Oferecer um leque de terapias essenciais – comportamental, fonoaudiológica, ocupacional – de forma contínua e integrada.
- Apoio às Famílias e Cuidadores: Incluir quem cuida no processo. Porque autismo não se trata só; se vive em família.
Ah, e tem um detalhe crucial: a nova linha estabelece prazos máximos para cada etapa. Nada daquela fila de espera interminável que, sabemos bem, significa regressão no desenvolvimento de muitas crianças.
Um Longo Caminho até Aqui
É inegável que a Lei Berenice Piana (12.764/2012), que reconheceu o autismo como deficiência, foi um marco. Mas entre a lei e a prática… bem, sempre houve um abismo. Esta nova diretriz parece ser a ponte que faltava. Ela tira a teoria do papel e joga luz sobre o como fazer.
O ministro Nísia Trindade deixou claro: a ideia é qualificar o cuidado, descentralizar o acesso e acabar com as disparidades regionais. Um paciente no interior do Amazonas deve ter o mesmo direito à saúde que um na capital paulista. Soa utópico? Talvez. Mas é um começo fundamental.
O que me impressiona, particularmente, é o foco na capacitação. De que adianta ter um protocolo se o profissional na ponta não estiver preparado? O anúncio veio acompanhado de um plano de treinamento em massa para os trabalhadores do SUS. Agora é torcer para sair do discurso.
O autismo não é uma doença, é uma condição. E condição exige cuidado, não cura. Essa mudança de mentalidade – tratar o TEA com a complexidade que ele merece – talvez seja o maior legado dessa nova linha de cuidado. O SUS, com todos os seus percalços, dá um passo histórico na direção certa. Vamos acompanhar de perto.