
Um dado que choca e, ao mesmo tempo, traz um fio de esperança. O estado de São Paulo registrou um aumento expressivo de 31% no atendimento a crianças e adolescentes com leucemia mieloide aguda (LMA) entre 2020 e 2024. Sim, você leu certo: quase um terço a mais de jovens buscando — e encontrando — tratamento.
Isso não é apenas um número frio numa planilha. Representa centenas de famílias paulistas que, diante de um diagnóstico devastador, conseguiram acesso ao sistema de saúde. E olha, a gente sabe como é difícil — a burocracia, a espera, o medo. Mas os dados mostram que a rede pública está, aos trancos e barrancos, respondendo.
Mas por que esse aumento?
A primeira pergunta que vem à mente é: será que mais pessoas estão ficando doentes? A oncologista pediátrica Maria Cristina de Andrade, que vive na linha de frente desse atendimento, joga um balde de água fria na simplificação. "Não se trata necessariamente de um aumento na incidência da doença", ela pondera, com a cautela de quem lida com vidas todos os dias. "O que estamos vendo é uma melhoria na capacidade de diagnóstico e no acesso aos serviços especializados."
Traduzindo: os hospitais estão enxergando melhor o problema. E isso, convenhamos, é uma pequena vitória.
O longo caminho após o diagnóstico
Receber a notícia é só o começo de uma maratona exaustiva. O tratamento é um verdadeiro turbilhão — quimioterapia intensiva, longas internações, e um desgaste físico e emocional que poucos conseguem imaginar. O sistema, por sua vez, precisa estar preparado para oferecer suporte não só médico, mas psicológico e social.
E aqui vem a parte boa: o relatório da Secretaria de Estado da Saúde aponta que 67% dos casos foram tratados exclusivamente pelo SUS. Sim, o Sistema Único de Saúde, tão maltratado e subfinanciado, foi a tábua de salvação para a maioria esmagadora desses jovens.
Os desafios que ainda persistem
- Descentralização: Ainda há uma concentração dos tratamentos mais complexos na capital, forçando famílias do interior a se deslocarem — e se desfazerem — em busca de cuidado.
- Acesso a medicamentos: Embora haja avanços, a fila para drogas de alto custo e terapias-alvo ainda é uma realidade cruel para muitos.
- Suporte pós-tratamento: Vencer o câncer é uma batalha, mas a guerra continua com o acompanhamento de longa duração, essencial para evitar recaídas.
O caso do influenciador Afonso de Vale, que faleceu em 2023 após uma batalha pública contra a LMA, escancarou a discussão na mídia. Sua luta, tristemente, não foi em vão — ajudou a colocar holofote sobre a urgência de políticas mais eficazes.
O que esses números nos dizem, no fim das contas? Que estamos diante de um paradoxo. Mais gente está conseguindo chegar ao tratamento, o que é ótimo. Mas isso também sobrecarrega um sistema que já opera no limite. É um sinal de alerta e, ao mesmo tempo, um chamado para comemorar as pequenas conquistas. Afinal, por trás de cada porcentagem, existe uma vida que vale a pena ser lutada.