
Era pra ser um alívio, mas virou um pesadelo sem fim. Passados anos da epidemia do Zika Vírus — aquele que deixou um rastro de microcefalia e outras complicações neurológicas em bebês —, as famílias afetadas ainda esbarram na burocracia do governo. A promessa de indenização? Até hoje, só no discurso.
"É como se a gente tivesse sido esquecido", desabafa uma mãe de Recife que prefere não se identificar. Ela, como centenas de outras pelo Nordeste, vive na corda bamba entre remédios caros e a esperança de um apoio que nunca chega.
O que diz o governo?
Ah, o famoso "está em análise". O Ministério da Saúde garante que o processo segue seu curso, mas evita prazos concretos. Enquanto isso, os números assustam: mais de 3,5 mil crianças diagnosticadas com a Síndrome Congênita do Zika desde 2015. Muitas precisam de terapias diárias que custam os olhos da cara.
Não é só dinheiro. É dignidade. É poder comprar um andador especial ou pagar aquele neurologista que sabe tratar os espasmos. Sem a indenização, algumas famílias recorrem a vaquinhas online — triste realidade em pleno 2024.
O jogo político
Nos bastidores, a discussão emperra em detalhes técnicos: valores, critérios, quem tem direito. Enquanto os gabinetes em Brasília debatem, o tempo corre contra essas crianças. Algumas já entraram na fase escolar com necessidades que o SUS não consegue suprir sozinho.
E tem outro detalhe sujo: muitos benefícios emergenciais acabaram em 2022. Resultado? Pais desempregados por cuidarem dos filhos 24 horas agora enfrentam dívidas hospitalares. "Até quando vamos ser tratados como caso secundário?", questiona um pai da Paraíba.
O recado das famílias é claro: chega de promessas vazias. Ou o governo federal assume sua responsabilidade de vez, ou essa vai virar mais uma página vergonhosa da história da saúde pública brasileira.