Juazeiro do Norte: Famílias com Crianças Autistas Lutam por Terapias no SUS — A Batalha é de Todos Nós
Famílias cobram terapias para autismo em Juazeiro do Norte

Imagine ter na ponta da língua o remédio que pode mudar a vida do seu filho, mas ele está sempre atrás de um balcão fechado. É mais ou menos assim que se sentem dezenas de famílias em Juazeiro do Norte, no coração do Cariri cearense. A questão? O acesso — ou a falta dele — a terapias essenciais para crianças dentro do espectro autista.

Não é papo de espera de poucos dias. Estamos falando de meses. Às vezes, anos. E olha que a Justiça já deu ganho de causa às famílias, determinando que o poder público forneça os tratamentos. Só que entre o papel e a vida real, existe um abismo.

O Grito que Ecoa nos Corredores Vazios

"A gente se sente completamente invisível", desabafa uma mãe, que prefere não se identificar. O medo de represálias é real. Ela conta que a jornada é solitária: "Você vê o potencial do seu filho, sabe que com o suporte certo ele vai voar, mas esbarra sempre na mesma burocracia. É desumano".

E não é só uma ou duas terapias. A demanda é por um pacote completo: fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional… o básico do básico para garantir desenvolvimento e, vamos ser sinceros, um pouco de dignidade.

A Lei Existe. Mas e a Vontade Política?

Aqui é que a coisa fica ainda mais complexa. Não se trata de uma benesse, um favor. É direito puro e simples, garantido por lei. A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista não deixa margem para dúvidas. O Estado tem que prover.

Mas e aí? O que explica a demora? Falta de verba? Má gestão? Desinteresse? A pergunta fica no ar, ecoando nas paredes das salas de espera lotadas.

Enquanto isso, pais viram especialistas por necessidade. Viram advogados, terapeutas, e principalmente, guerreiros. Cansei de ouvir histócias de quem pegou empréstimo, vendeu coisas de casa para bancar uma sessão particular, porque o tempo não espera. E o desenvolvimento de uma criança, muito menos.

O Recado que Fica: A Luta é Coletiva

O caso de Juazeiro não é isolado, longe disso. Ele espelha uma realidade dolorosa em muitos cantos do Brasil. Revela uma fratura: a distância entre o que está no papel e o que chega de fato para quem precisa.

A questão que fica, e é uma que cutuca, é: até quando? Quantas liminares, quantos processos, quantos gritos abafados serão necessários para que o acesso à saúde deixe de ser um privilégio e vire, de vez, um direito real?

Uma coisa é certa: a batalha dessas famílias é de todas nós. Porque no fim do dia, medir a saúde de uma sociedade é ver como ela trata aqueles que mais precisam de cuidado.